Uma pesquisa inédita no Brasil, lidera-
da pela Embrapa Soja, semeou soja selva-
gem para estudar seu comportamento e
identificar suas características. Foram ana-
lisadas 21 espécies, provenientes de par-
cerias com o Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos e com a Universidade
de Sidney, na Austrália. Através da regene-
ração e do armazenamento dessas semen-
tes, a ideia é possibilitar a ampliação da
variabilidade genética da soja e agregar ga-
nhos para a cadeia produtiva.
O trabalho, que começou a ser realizado
no início de 2016, já está praticamente con-
cluído. ConformeopesquisadorMarceloFer-
nandes de Oliveira, curador do Banco Ativo
de Germoplasma (Bag), as sementes foram
armazenadas na coleção mantida pela Em-
brapa Soja em Londrina (PR). Com cerca de
35mil tipos de soja, o banco é considerado o
terceiromaior domundo, preservando aces-
sos de diversos países utilizados em progra-
masdemelhoramentodevariedades.
Estaéaprimeiravezqueessas sementes
foram catalogadas no País dentro de casas
de vegetação. Para desenvolver o estudo,
o plantio, a colheita e a debulha das plan-
tas são feitos manualmente, em um traba-
lho minucioso. A equipe realiza atividades
sistemáticas de catalogaçãoedemultiplica-
BancoAtivodeGermoplasma(Bag)daEmbrapa
Sojaanalisa21espéciesdesojaselvagempara
ampliaravariabilidadegenéticadogrão
Brasileiríssimo
O Banco Ativo de Germoplasma (Bag) da Embrapa Soja, criado em 1976, atualmente é
considerado o terceiro maior banco de sementes de soja do mundo e contribui com a pre-
servaçãodavariabilidadegenéticadaoleaginosa.Acoleçãotememtornode35milacessos,
oriundos de coleções de países de todos os continentes. Para preservar sua riqueza genéti-
ca, a entidade mantém uma estrutura totalmente automatizada, remodelada em 2011. As
sementes sãomantidas emcâmara fria a 5 graus, comumidade controlada de 25%.
Para o pesquisador Marcelo Fernandes de Oliveira, curador do Bag, trata-se de umpa-
trimônio nacional, que garante o desenvolvimento de melhores cultivares e torna o Bra-
silmais produtivo. “No casoda Embrapa, o acesso a essas características foi determinante
para modernizar completamente a genética das cultivares BRS”, salienta. “Nosso portfó-
lio é omais completo domercado, porque temos soja para atender às diferentes necessi-
dades do produtor, como precocidade, hábito indeterminado, reação a novas doenças e
alto potencial produtivo”.
Riqueza
ancestral
çãodessassementes,identificandosuaspe-
culiaridades, como produtividade, porte da
planta, ciclo, resistência a doenças, sabor e
tolerância climática, entre outros aspectos.
Oliveira explica que, depois de cata-
logadas, as sementes ficam disponíveis
para serem cruzadas comoutras plantas e
gerar plantas melhoradas ou novas plan-
tas. “Temos que catalogar e conhecer es-
sas fontes genéticas porque, do contrá-
rio, não teremos como utilizar toda essa
riqueza", frisa. Diferente da soja semeada
hoje, originária da China (
Glycine max
), a
selvagem ainda é pouco conhecida, mas
tem características que podem ser deter-
minantes para a cultura comercial.
“Apesar de a soja selvagem ser pouco
estudada, sabemos que seu genoma é di-
ferente do genoma da soja cultivada e que
tem fontes de resistência a várias doenças
e pragas”, esclarece. O cientista destaca
que, de início, serão identificadas fontes
de resistência para ferrugem, cancro-da-
-haste e cercospora, que são os três pro-
blemas mais severos da atividade. Já se
sabe que a
Glycine tomantela
, uma das es-
pécies selvagens, tem genes de resistên-
cia à ferrugem-asiática, mas a ideia é iden-
tificar outros genes que possammelhorar
as condições de cultivo.
103