Sem
sossego
Combateàferrugem-asiáticaainda
desafiaapesquisa, sobretudoemvirtude
damaior resistênciadofungo
aosdefensivosexistentesnomercado
Em busca de mais resistência
A pesquisa tenta incorporar resistência genética nas cultivares, mas isso nem sempre é
possível, uma vez que o fungo da ferrugem-asiática muda em velocidade mais rápida do
que a descoberta de novas tecnologias para seu controle. A curto emédio prazos, a pesqui-
sadora Cláudia Vieira Godoy não acredita emmudanças importantes. “O aumento na ofer-
ta de cultivares com resistência à ferrugemnão deve ser significativo, porque nem todos os
programas demelhoramento têm isso como foco de pesquisa, embora devessem, pois isso
ajudaria bastante a reduzir a pressão de seleção de resistência aos fungicidas”, frisa. “Tec-
nologias antigas, como fungicidasmultissítios, estão voltando para aumentar a eficácia dos
fungicidas sítio-específicos e tentar atrasar a velocidade de seleção de resistência”.
A longo prazo, alguns estudos, conduzidos por diferentes grupos, envolvemo aumento
da resistência das plantas com a incorporação de genes envolvidos na resistência não hos-
pedeira, por cruzamentos convencionais e tambémtransgenia. Outra proposta vislumbra o
aproveitamento de tecnologias utilizando RNA interferência (RNAi), que se baseia no silen-
ciamentode genes dopatógeno. “Mas essas tecnologias ainda estão longe de ir para o cam-
po”, adianta. Segundo a fitopatologista da Embrapa Soja, quando soluções científicas não
sãopossíveis, a pesquisa tenta orientar sobre asmelhores formas demanejo, cultural e quí-
mico, para que os agricultores evitemreduções de produtividade.
A ferrugem-asiática já é uma velha co-
nhecida dos produtores de soja brasileiros.
A doença não encontra fronteiras e ain-
da hoje é considerada a principal barreira
da atividade no País. Causada pelo fungo
Phakopsora pachyrhizi
, que se dissemina
facilmente pelo vento, tem alto potencial
de dano e ocorre na maioria das regiões
produtoras de Brasil, Paraguai e Bolívia.
Conforme a agrônoma Cláudia Vieira Go-
doy, pesquisadora da Embrapa Soja, um
dos agravantes é que a ferrugempode inci-
dir emqualquer estádio da cultura.
“O mais comum é que ocorra após o fe-
chamento do dossel, em razão do acúmu-
lo de umidade e damenor incidência de ra-
diação solar nas folhas baixeiras, por onde
a doença tende a começar”, explica. A fito-
patologista ainda esclarece que emsemea-
duras tardias, devido à alta quantidade de
inóculo do fungo produzido nas primeiras
semeaduras, a doença pode se iniciar no
período vegetativo. Entre as doenças que
atingem a cultura, a ferrugem-asiática é a
quemais reduz a produtividade–amédiaé
de 40% nas lavouras sem aplicação de fun-
gicida, podendo chegar a 80%.
O controle da doença é feito por meio
da integração de medidas, como a adoção
do vazio sanitário, período de 60 a 90 dias
sem soja na entressafra. O objetivo é redu-
zir o inóculo do fungo, que só sobrevive em
plantas vivas. Outras ações, segundo Cláu-
dia, devem ser a semeadura no início da
época recomendada, com cultivares preco-
ces, para escapar dos períodos com maior
incidência do fungo
Phakopsora pachyrhizi
;
a escolha por cultivares comgenes de resis-
tência e a utilização de fungicidas.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) tem o registro de
120 fungicidas para o controle da ferrugem,
mas a eficiência desses produtos vem sen-
doreduzidapelaseleçãodeisoladosdofun-
go menos sensíveis ou resistentes aos mes-
mos. Para a cientista, a rápida adaptação a
esses compostos coloca em risco o contro-
le de doenças. “Nos próximos anos, a resis-
tência de fungos pode reduzir os patamares
de produtividade de soja no Brasil, princi-
palmente devido à ferrugem, que é a doen-
ça commaior potencial de dano”, comenta.
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