Jornal da Emater - Julho 2017 - page 5

O filho Matheus, ausente no dia da
entrevista,aospoucoscomeçaaseintei-
rar a respeito da propriedade, após ter
passado oito anos no Exército. Ele aju-
da a mãe no manejo com os animais e
lida comas plantações. Mas é seu Jenez
quemtemas rédeas de tudoedeixacla-
ro que a hierarquia familiar não deve se
modificar tão cedo. “Aqui sou eu quem
manda. Euque decido comoagente vai
tocarascoisas”,diz,comumsorrisoleve-
mente irônico. Quando perguntado so-
bre como funciona a divisão dos rendi-
mentos das lavouras e do comércio de
animais, dá mais um sorriso e senten-
cia: “Soueuquemandotambém.Quan-
do ela quer comprar alguma coisa, me
pede e daí digo se dá ou não dá”, expli-
ca, colocando amão emcima damesa,
simulandoumadivisão.Os rendimentos
dofilho,cercadeumsaláriomínimo,são
liberadosdamesmamaneira.
Na hora de falar sobre a rotina da
propriedade, novamente é o patriar-
ca quem conduz a narrativa. Detalha-
damente, explica sobre o cultivo de ar-
rozemilhoedas125cabeçasdebovinos
e quase duas centenas de ovinos. As ta-
refas de cada um raramentemudam. O
despertador toca por volta de 6 horas e
de vez em quando se permitem prolon-
gar o sono alguns minutos. Então a es-
posa e o filho vão alimentar e soltar os
animais. SeuJenez ficaemcasa.Depois,
tomam o café da manhã em conjunto.
DonaJuremafazoserviçodacasaepre-
para o almoço, enquanto o marido vai
verificardetalhesdapropriedade,emes-
pecial amanutenção das benfeitorias, e
vistoria cercas e alambrados. Depois do
almoçoedodescanso,arotinaserepete.
É o perfil de quem aprendeu mais
comavidadoquenaescola.Estudouaté
a 3ª série do ensino fundamental. Ela foi
atéa4ªsérie.Vãoparaacidadeumavez
pormês, para tratar deassuntosbancá-
rios ou buscar mantimentos, e não sen-
temfaltadaáreaurbana.Entreascoisas
quevalorizamnavidaquelevamestãoo
horizonte do Pampa e a paz decorrente
da rotina inalterada. Ao final da conver-
sa, questionado sobre felicidade e reali-
zação,arespostafoisimplescomoavida
que levamemmeio ao isolamento geo-
gráfico. “A gente faz o que sabe e o que
gosta.Eassimébomdeviver”,diz.
“Aqui sou eu quemmanda”
Olhoatentonohorizonte
De fala fácil, quando a conversa inicia, seu
Jenez Machado fica à vontade para falar sobre
o que pensa e como vê o mundo. Não escon-
de que gosta de falar de política e de coisas do
campo, de comprar e vender bichos. Entreuma
pergunta e outra, fala de como o governo pode
ajudar ou atrapalhar quemvive em regiões iso-
ladas, como a Timbaúva. “Pra mim, está tudo
errado. Hoje, a escola daqui ensina as crianças
para viver na cidade. Os alunos não aprendem
nada de gado, de milho, de horta, de lavoura”,
diz. “Assim, quando terminam o colégio, que-
rem ir embora. E daí? Quem segura? A vida na
cidade é muito mais fácil, né? A escola do inte-
rior tinha de ensinar coisas do interior”, teoriza.
A desilusão como campo émanifestada vá-
rias vezes durante a conversa, mas o agricultor
nãoescondea felicidadecomadecisãodo filho
Matheus de tocar a propriedade, apesar das di-
ficuldades com a matriz produtiva atual. “Den-
tro de 10 anos, não sei se a gente vai estar por
aqui. Está tudomuito difícil. Vai ter que ter mu-
dança. Do contrário, acho que algum grande
vai acabar comprando aqui”, frisa, referindo-se
ao avanço das lavouras de soja.
Ao mesmo tempo em que lamenta o des-
fecho que antevê, seu Jenez é avesso a gran-
des mudanças. Mantém o celular antigo sem-
pre junto do corpo, para ligar, enviar e receber
mensagens. E só. É avesso a redes sociais. “Es-
sas coisas de ‘Feice’ nem quero saber o que é.
Não me faz falta e acho que deve viciar. É me-
lhor nemchegar perto”, sugere, emmeio a risa-
das dele e da esposa. A visão conservadora de
mundo é replicada tambémnos negócios. Sem
grandes alternativas de renda, chegou a fazer
um curso e conseguiu ampliar as receitas com
o manejo de borregos, mas logo desistiu. “Eu
sou do tipo antigo. Não me dobro mais. Não
adianta. A gente sabe o que temque fazer, mas
não faz. Souburrovelho, teimoso”, brinca, justi-
ficando a postura.
A burocracia e os altos custos de produção
igualmenteminama confiança emdiasmelho-
res. “Hoje, é papelada pra tudo. Estão matan-
do a vida no campo. É documento para isso. É
documento para aquilo, para aquele outro. É
regra demais. Não dá certo. Tão complicando
tudo”, argumenta seu Jenez, que recorre à par-
ceria com vizinhos para tentar diminuir os gas-
tos, principalmente na compra de defensivos e
na locação de equipamentos.
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Quando a safra é farta todos saem ganhando, no campo e na cidade.
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