A mais antiga lei do mercado

Entre 2014 e 2017, setor lácteo nacional viveu a mais longa crise de preços

Em 2013 e 2014, os preços do leite foram extremamente atrativos no Brasil, o que gerou aumento de produção. A consequência foi inevitável. Entre setembro de 2014 e maio de 2017, os valores pagos foram extremamente baixos, sendo o ápice da crise entre março e junho de 2016, quando o preço chegou a US$ 22,00 por 100 quilos de leite, na referência IFCN, sigla em inglês para Rede Internacional para a Comparação de Sistemas de Produção de Leite.

O pesquisador Lorildo Stock, da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), é um dos membros da IFCN, que reúne instituições e pesquisadores de 95 países. Conforme ele, “foi a mais longa crise da história, que durou 33 meses e acabou por se agravar em parte por causa do crescimento da produção de leite na União Europeia acima da expectativa, em termos históricos, por conta da extinção do regime de cotas”.

Stock explica ainda que em 2015 a média dos preços foi de US$ 29,00, 22% abaixo do seu valor histórico. Somente em 2017 alcançou-se o nível normal, na casa de US$ 37,00 por 100 quilos de leite. “Em 2018 houve queda de 20% nos preços em janeiro e gradual recuperação para US$ 35,00 em junho”, cita. “A minha expecativa é de que não haja grande oscilação até o final do ano e que a média feche 2018 no valor histórico de US$ 37,00”, estima.

Em relação à produção, o pesquisador afirma que os preços atrativos de 2013 e 2014 trouxeram aumento de produção, com crescimento de 4,4% na disponibilidade de leite global, tendo como consequência uma crise de preços em anos posteriores. O maior incremento aconteceu em 2014, com acréscimo de 26 milhões de toneladas em relação ao ano anterior. “Em 2017, a produção global teve crescimento de 2,8%. Considerando os níveis de preços, em patamares de médias históricas, a estimativa é de que a produção global cresça cerca de 2,3% ao ano tanto em 2018 quanto em 2019, com aumento anual de 20 milhões de toneladas”, avalia Stock.

O diretor geral do IFCN, Torsten Hemme, acredita que a demanda de leite deve aumentar 35% até 2030. “O mercado vai precisar de mais leite. O aumento da demanda não é apenas porque há mais pessoas vivendo no mundo, mas também aumentará o consumo individual”, ressalta. Ele enfatiza ainda que esta demanda deverá ser suprida pela cadeia do leite, que terá mudanças estruturais.

PARA A FRENTE

O leite no mundo em 2017 e 203

2017 2030 %

Toneladas produzidas (milhões) 864 1168 35

Animais em lactação (milhões) 372 417 12

Rendimento médio por animal (t/ano) 2.2 2.7 23

Número de propriedades (milhões) 118 104 -12

Consumo diário por pessoa 116 135 16

Fonte: IFNC.