Venda externa brasileira do grão em 2020 atingiu nível perto do recorde

Principal cultura agrícola do Brasil, a soja assegura a liderança na produção mundial e há mais tempo já se encontra à frente nas exportações

A soja brasileira consolidou-se nas últimas décadas como a principal cultura agrícola do País e agora também se firma na liderança mundial, ultrapassando os Estados Unidos, que já superou há mais tempo na exportação. Na safra 2019/20, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil ficou à frente dos norte-americanos, com 126 milhões de toneladas produzidas do grão, contra 97 milhões daquele país, e o mesmo deve acontecer no novo ciclo, com respectivos 133 e 112 milhões de toneladas projetados em janeiro de 2021.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) levantou volume próximo de 125 milhões de toneladas na última temporada brasileira da oleaginosa e previa, também em janeiro de 2021, mais de 133 milhões de toneladas para a próxima. Os bons resultados obtidos na comercialização da safra anterior e investimentos feitos já garantiram o resultado de 2020 e motivaram novamente os produtores para 2021. Já no início da safra, a companhia destacava o cenário estimulante de “forte demanda chinesa, câmbio favorável e preços em bom patamar”, o que seguia no último levantamento, embora tivesse havido atraso no plantio.

Em relação aos preços, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), divulgou indicador Esalq/BM&Bovespa – Paranaguá de R$ 121,24 por saco no ano (47,5% a mais que em 2019), e na média das regiões acompanhadas, apurou valores 45% superiores no mercado de balcão (preço pago ao produtor). O dólar, com média de R$ 5,16, foi 30,3% acima do registrado no ano anterior, segundo o Cepea. O centro ainda apontava para 2021 possível menor relação estoque/consumo das últimas temporadas, o que daria sustentação aos preços domésticos e derivados no ano.

A demanda, no entender da Conab em janeiro de 2021, deverá continuar alta tanto em nível interno quanto externo. No plano doméstico, “deverá manter-se aquecida em virtude do crescimento da economia, aumento da produção de carnes para exportação e da mistura do biodiesel, que passará de B12 para B13”. E em nível externo, projetava incremento nas exportações, “motivadas pela forte demanda chinesa e pelo forte percentual de comercialização até o momento, que já alcança mais de 60% da safra”. Já a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) previa manter os níveis de venda externa de 2020 e o USDA indicava redução brasileira, com retomada americana no mercado chinês.

As exportações brasileiras de soja em 2020 ficaram quase no mesmo patamar do recorde atingido em 2018, com 82,3 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que apurou 82,9 milhões de toneladas há dois anos e 72,4 milhões de toneladas em 2019. O diretor-geral da entidade, Sérgio Castanho Teixeira Mendes, registrou a continuidade do aumento nas exportações chinesas em 2020, que corresponderam a 74% do total, seguido de 4% da Espanha e 3% da Holanda e Tailândia. Ele enfatizou o grande peso representado pelo dólar valorizado em relação ao real, “o que tornou o País extremamente competitivo”, e a expectativa de continuar desta forma no novo ano.

A Abiove, por sua vez, destaca o processamento recorde de soja no ano, atingindo 45,5 milhões de toneladas, resultando em 34,68 milhões de toneladas de farelo e 9,15 milhões de toneladas de óleo de soja. Conforme assinalou Daniel Furlan Amaral, economista-chefe da entidade no Anuário Brasileiro da Soja 2020, o movimento resultou de “novas oportunidades para o farelo de soja brasileiro e, de modo especial, do crescimento do consumo de óleo de soja para biodiesel, cuja mistura mínima obrigatória passou a 12% em março de 2020”. Com a previsão de passar esta mistura para 13% em março de 2021 e também incremento no farelo, previa da mesma forma manter o crescimento no processo do grão no novo ano.

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

As duas associações do setor também têm se preocupado em esclarecer que a produção da soja brasileira ocorre de forma sustentável e não afeta o bioma Amazônia, conforme alusões feitas pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Tanto a Anec quanto a Abiove salientam que a Moratória da Soja, assinada desde 2006 com a indústria processadora da soja e representantes da sociedade civil, firmou o compromisso de não comercialização de soja produzida em áreas desflorestadas naquele bioma, constituindo na prática, com amplo monitoramento e bloqueio, “uma política de desmatamento zero na sua cadeia de fornecedores da região”.

A Abiove, ainda no final do ano passado, encaminhou contribuições à consulta pública realizada pela Comissão Europeia para “Avaliação do Impacto de Produtos no Desmatamento e Florestas”, onde mostra que a soja ocupa hoje 1,3% do bioma Amazônia e, em 2019, apenas 1,8% de toda oleaginosa ali produzida teve origem em áreas desmatadas após 2008 e não entrou na cadeia de fornecimento das associadas. Informou também que no bioma cerrado a expansão da soja tem caído ao longo dos anos, passando de 215 para 73 hectares por ano, e acontece principalmente em áreas já abertas. O dado confere com observação feita pela Conab, de que as pastagens degradadas vêm respondendo pela maior parte das novas áreas de ocupação da soja no País.