Plantio direto de amendoim pode ser viável no oeste paulista
Sistema que permite plantio direto na palha, reduz riscos e custos de produção foi um dos temas abordados durante o 2º Dia do Amendoim
Público participante percorria as quatro estações montadas dentro de uma lavoura de amendoim em Regente Feijó (Foto: Emerson Sanchez)
Levar conhecimento da porteira para dentro e difundir resultados e a importância das pesquisas na cultura do amendoim. Foram com essas propostas que o 2º Dia do Amendoim foi realizado na última sexta-feira (20), numa parceria que envolve a Amendoeste e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). O evento, que reuniu técnicos e pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa, empresas do setor produtivo e produtores de diversas regiões do estado, teve número recorde de inscrições que passaram de 300 desta vez.
No dia de campo, realizado numa propriedade rural de Regente Feijó, organização impecável para que todos os participantes pudessem ter acesso às informações mais técnicas e específicas, por meio de pesquisadores, técnicos e profissionais da área ligados a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Unoeste e Unesp.
Na dinâmica, o público percorria as quatro estações que foram montadas dentro da lavoura do produtor Helder Lamberti. Em palestras que duravam, em média, 20 minutos cada, eles se inteiravam de informações diversas e técnicas, além das novidades na área. Os temas debatidos foram vários, entre eles as cultivares mais propícias do amendoim para a região, a qualidade das sementes, a fertilidade e nutrição desse tipo de cultura, além da técnica em sistema de plantio direto do amendoim que ainda não é adotada por aqui, mas pode se tornar promissora, como explica o professor Dr. Fábio Rafael Echer, coordenador do Programa de Pós-graduação em Agronomia da Unoeste e à frente da organização do evento.
“Nós estamos começando as pesquisas para justamente mostrar que há viabilidade de se produzir dessa forma na região, e que ele [produtor] passa a reduzir o risco de produção sem ter perda de produtividade. Na estação três, os participantes tiveram contato com um pesquisador da Apta que trabalha com isso há mais de 20 anos em outra região, juntamente com o relato de um produtor da região de Jaboticabal que já produz amendoim na palha e tem obtido excelentes resultados. Enquanto academia, universidade e centro formador de pessoas temos também como um de nossos pilares a extensão, então a gente acaba usando esse evento para melhorar a comunicação com os produtores rurais”.
Nesta segunda edição do evento, ele ressalta que foram 310 inscritos, quase triplicando o número de 120 inscrições efetivadas no 1º Dia do Amendoim realizado no primeiro semestre de 2022. Outros números importantes: foram 205 técnicos presentes, 70 produtores, 35 alunos da Unoeste mobilizados, 14 patrocinadores e uma abrangência de alcance a 74 municípios. “Tivemos que encerrar as inscrições porque o local que a gente tinha planejado não comportaria. Isso mostra que há uma grande aceitação principalmente porque há um movimento de volta do amendoim para o oeste paulista, de Marília até Presidente Epitácio. Prudente está nessa região e nós, por estarmos inseridos nessa região, temos uma grande oportunidade pra levar o nome da universidade, pra fazer pesquisa, difundir conhecimento e pra ajudar a melhorar a produção na região”.
Na região de Prudente, o amendoim viveu o auge do seu ciclo na década de 1950, mas está de volta no radar dos produtores por conta das condições favoráveis existentes no oeste paulista. É que o solo mais arenoso aqui facilita a colheita, e o amendoim é muito mais resiliente a temperaturas elevadas e tolerante à seca. “Mesmo quando há um problema climático o amendoim consegue se sair melhor que o milho e a soja, por exemplo. Isso acaba diminuindo o risco do produtor, o risco de produção. Ele consegue, mesmo numa condição mais adversa, ainda a ter renda”, complementou Dr. Fábio.
Unoeste no campo
O Pró-reitor Acadêmico da Unoeste, Dr. José Eduardo Creste, marcou presença e acompanhou todo evento. Ele elogiou a organização, sobretudo o fato do número de inscritos ter quase triplicado de uma edição para a outra.
“É uma valorização tremenda, neste caso específico para o produtor de amendoim que com certeza quer melhorar sua produtividade, obter mais crescimento, mais prosperidade, gerar mais empregos. A Unoeste fazer parte desse evento, ser um dos proponentes, só tenho a parabenizar todos os envolvidos, alunos, professores e até mesmo as empresas parceiras, mesmo porque a pesquisa é um carro-chefe porque ajuda a resolver problemas. As quatro estações debatendo produção de sementes, controle de pragas e doenças, nutrição e adubação, é incrível porque tem muitos trabalhos e pesquisas que a Unoeste faz nesse sentido. Tudo pra elevar a produtividade e oferecer uma condição melhor a todos os produtores”, destacou.
O Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão, Dr. Adílson Eduardo Guelfi, agradeceu ao proprietário da fazenda anfitriã, o produtor Helder Lamberti, por ter aberto a propriedade dele para a propagação do que ele chama de conhecimento. “Esse é um evento que traz vários interessados, com várias visões. Você traz empresas, universidades e principalmente uma parte importantíssima da cadeia que é produtor. Inclusive agradeço a cada produtor presente que acordou cedo disposto a escutar e a compreender o que essa parceria entre pesquisa, inovação, setor produtivo e ele próprio inclusive pode girar valor e melhorar o desenvolvimento econômico e social da nossa região”.
Mãos na terra
Há 16 anos cultivando amendoim, o produtor Helder Lamberti plantou nesta safra 275 alqueires de amendoim, o equivalente a 665 hectares. Ele conta porque sempre faz questão de abraçar a causa, permitindo a troca de conhecimento na condição de anfitrião. “O produtor já vem se tecnificando, procurando melhorias em todos os sentidos e a pesquisa é o caminho pra isso, abre porteiras para qualquer segmento do agro. Desde que a Unoeste me procurou há uns três anos fiz questão de colaborar com a universidade pra gente ter esse espaço da pesquisa para o desenvolvimento da cultura. É bom porque ajuda a tirar as dúvidas de produtos, de variedades, de tipos de solo, de plantio, para melhorar a cultura, a produtividade. Isso estimula os produtores da região porque mostra a eles que dá sim pra melhorar a produtividade conseguindo assim um resultado melhor na cultura”, opinou.
Estimativa da Câmara Setorial do Amendoim é de que o estado de São Paulo produza nesta safra um milhão de toneladas de amendoim casca (Foto: Emerson Sanchez)
O produtor rural de Marília, André Rafael Trevisan Pontello, cultiva amendoim há 20 anos para o mercado interno. Pela primeira vez, marcou presença no Dia do Amendoim querendo ampliar ainda mais o que ele já sabe sobre a cultura. “Nosso objetivo é adquirir conhecimento uma vez que o amendoim é o nosso negócio e nosso empreendimento. A gente vem com a ideia de aprender e melhorar cada vez mais nossa produtividade, ter uma melhor colheita, conhecer novos produtos e tecnologias novas pra estar cada vez mais aprimorando nosso negócio”.
Projeções da safra 2022/2023
Em relação à safra passada – quando foram cultivados cerca de 250 mil hectares no Estado de São Paulo –, a Câmara Setorial do Amendoim revela que a área de cultivo nesta safra 2022/2023 foi reduzida para 230 mil hectares, devendo a produção no Estado chegar a um milhão de toneladas de amendoim casca. Essa diminuição na área plantada, segundo o presidente da entidade, Luiz Antônio Vizeu, ocorreu devido a uma série de fatores, sendo o principal deles a queda no preço pago aos produtores em função da guerra da Ucrânia com a Rússia, em 2022.
“Houve uma diminuição de uns 15% da área plantada em função disso. A guerra da Rússia com a Ucrânia afetou nossas exportações porque dos 70% que exportamos da nossa produção, 50% vai para esses dois países. Para além disso tudo, criou um cenário muito ruim entre abril e maio e os preços despencaram, deixando os produtores sem saber muito o que fazer com tanto amendoim. Por outro lado, a China passou a importar muito o óleo de amendoim. Ela duplicou a quantidade de óleo que ela importava normalmente no Brasil, o que acabou consumindo boa parte desse amendoim estocado. Os exportadores também foram deslocando amendoim para outros mercados dentro do possível, e com isso a oferta e demanda voltaram a entrar em equilíbrio, o preço voltou a subir e hoje está num patamar bom para o produtor”, analisou, revelando que hoje um saco de amendoim chega a ser comercializado a até 105 reais. No ano passado, o preço não passava dos 50 reais. “Estamos nos recuperando”.
Ele também falou da produção que deve chegar a um milhão de toneladas nesta safra. “É um número bom porque a gente retoma aquela produção de antes da guerra e a demanda mundial deve continuar pro amendoim. Então a gente retoma todo esse crescimento que vinha tendo, tanto de área plantada, como de exportação. Então são números positivos, que reanimaram o mercado”. Sobre o evento, enalteceu a importância de reunir tanto conhecimento num único espaço. “Esse tipo de evento é uma espécie de transferência de tecnologia. Você tem aqui a pesquisa de genética, de manejo, as empresas trazendo seus produtos, mostrando aqui no campo os efeitos desses produtos. E o produtor tem a oportunidade aqui de conversar, tirar suas dúvidas, ver o que está acontecendo, o que está surgindo de novo. Então é um evento muito importante, principalmente para essa região que vem crescendo em termos de cultivo de amendoim nos últimos anos”.