O fim do grude

Agilidade é maior virtude do novo modelo de detecção da pegajosidade

Nem todas as pessoas sabem, mas são açúcares os responsáveis pela sensação pegajosa em plumas de algodão. É o chamado agodão-doce ou caramelizado, problema que causa enormes prejuízos tanto a produtores quanto a indústrias. Para resolver a questão, pesquisadores e bolsistas da Embrapa, em parceria com o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), desenvolveram um método rápido e não destrutivo para aferir a presença destas substâncias. Praticamente é uma revolução para encarar a questão.

A alternativa utiliza imagens da pluma captadas por um sensor portátil de imagens que funciona no espectro infravermelho médio, invisível ao olho humano. Esse sensor pode ser usado até mesmo junto a um celular. A pegajosidade da pluma é um dos maiores contaminantes na fiação e pode causar sérios prejuízos, como o mau funcionamento das máquinas de fiação. A origem do problema está principalmente no ataque de pragas como o pulgão e a mosca-branca.

A questão, lógico, interfere no preço da pluma paga ao produtor. Ou seja, detectar o problema com eficácia traz mais segurança para toda a cadeia produtiva. “Captamos uma imagem equivalente a um mapa de temperatura da amostra de algodão, e a imagem é processada por algoritmos matemáticos que desenvolvemos para detectar os pontos onde há açúcar”, explica o pesquisador Everaldo Medeiros, da Embrapa Algodão.

As principais vantagens do método são o baixo custo e a agilidade. Na prática, é barato como tirar uma foto. E há outra vantagem. Como se trata de método não destrutivo, é possível fazer várias amostragens de um mesmo fardo. “O método convencional utiliza uma amostra de 20 gramas de pluma para ser representativa de um fardo de 200 quilos, e a pegajosidade pode estar em outro ponto do fardo”, alerta.

O próximo passo da pesquisa será desenvolver um aplicativo para que o usuário possa chegar ao resultado das análises de maneira descomplicada. A previsão é de que este novo método esteja disponível no mercado em até dois anos. Atualmente, para detectar a presença de pegajosidade as algodoeiras usam o método químico, que tem o inconveniente de ser destrutivo. “Esses métodos ainda apresentam um nível de incerteza, pois só funcionam para açúcares simples como a glucose e frutose. Açúcares entomológicos, excretados pelos insetos, são mais difíceis de detectar”, observa.

AINDA MAIS RÁPIDO

Outra técnica desenvolvida pela Embrapa Algodão para detectar a presença de açúcar é a utilização de imagens hiperespectrais. Trata-se de um aparelho que consegue captar imagens em escala micrométrica. A câmera hiperespectral mapeia, identifica e mede as propriedades físicas, químicas e biológicas dos objetos escaneados. A vantagem dessa tecnologia é a análise homogênea de toda a amostra. O equipamento ainda está em fase de testes.

UM PROBLEMA MILIONÁRIO

O açúcar entomológico é uma das contaminações da fibra de algodão mais prejudiciais para a indústria têxtil no mundo. De acordo com a pesquisa divulgada em 2017 pela Federação Internacional de Fabricantes de Têxteis (ITMF, na sigla em inglês), sediada em Zurique, na Suíça, o Brasil foi o país com maior percentual de ocorrência de pegajosidade nas amostras analisadas (em 39% de 23 amostras analisadas). “Embora a qualidade do algodão brasileiro venha melhorando cada vez mais, a presença de pegajosidade ainda é um problema que causa prejuízos milionários todos os anos aos cotonicultores e à indústria têxtil”, diz o pesquisador Everaldo Medeiros, da Embrapa Algodão.