Mais café no bule

Apesar de dificuldades enfrentadas em 2021, indústria cafeeira comemora o aumento apurado no consumo do produto no decorrer do ano

Apesar da crise econômica gerada pela pandemia, que afetou diversos setores em 2021, a procura por café seguiu ritmo de crescimento e registrou alta de 1,71% entre novembro/20 e outubro/21, em relação ao mesmo período anterior, conforme apurou a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Nas empresas associadas à entidade, que respondem por 72,9% da produção do café torrado em grão e/ou moído e representam 85,4% de participação no mercado, o índice de crescimento foi ainda superior (2,77%).

Diante de todas as dificuldades enfrentadas em 2021, como alta de custos, baixa oferta e economia ainda afetada pela pandemia, o crescimento é algo a ser comemorado”, disse Ricardo Silveira, presidente da Abic, em teleconferência no início de abril/22. No tocante aos custos, estudo feito pela associação, entre dezembro/20 a dezembro/21, indicou que a matéria-prima ficou, em média, 155% mais cara, e o aumento na média ponderada dos demais insumos atingiu 107,30%, enquanto nas prateleiras o reajuste do preço no mesmo período ficou em 52%, na média.

Já o Índice de Oferta de Café para a Indústria (Ioci), de acordo com o relatório então divulgado pela entidade industrial, em função da safra anterior menor, “se mantém abaixo da normalidade, indicando que as empresas, de todos os portes, não têm a oferta regular de café em grão, com o abastecimento sendo gradual e seletivo”. Já para o novo ciclo produtivo, o dirigente da Abic observou cenário melhor do que o apresentado em expectativas anteriores, com chuvas ajudando a melhorar a situação, o que já se refletia em preços e apontava “safra bem razoável”.

O total nacional de consumo de café em 2021, conforme os dados da Abic, atingiu 21,5 milhões de sacas, montante só superado pelo volume consumido em 2017 (22 milhões de sacas). Assim, o País manteve a posição de segundo maior consumidor de café do mundo, considerando os países de forma individual, tendo Estados Unidos na primeira colocação, com diferença de 4,5 milhões de sacas. Se forem computados os europeus em bloco (União Europeia), como faz o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), essa ocupa o primeiro lugar e o Brasil fica em terceiro. De outro lado, a Abic ainda destaca que, focando apenas os cafés nacionais, o maior consumo é verificado em território brasileiro.

Ainda pelos dados da associação do setor, o consumo nacional per capita também vem crescendo, tendo aumentado no ano de 2021 em 1,06%, para 6,06 quilo/habitante/ano de café cru e 4,84 kg/h/a de café torrado e moído. Este, por sua vez, atingiu produção de 20,56 milhões de sacas, com acréscimo de 1,58% na comparação com o período anterior. A relação das 100 maiores indústrias de café associadas da Abic, divulgadas no relatório anual, apresenta o Grupo Três Corações (CE), Jacobs Douwe Egberts BR e Melitta do Brasil (SP), como as três maiores, seguidas de Indústrias Alimentícias Maratá (SE), São Braz (PB) e Cooxupé (MG).

MAIOR CERTIFICAÇÃO

A Associação Brasileira da Indústria (Abic) ressalta ainda, no balanço anual, o crescimento da certificação de produtos de alta qualidade, com selo de “Pureza e Qualidade Abic”, que chegou a 51% nos últimos cinco anos. No ano de 2021, o número total alcançou 1.091, com a maior parcela referente ao tipo Tradicional, 296 de Gourmet, 209 Superior e 181 Extraforte. No entanto, conforme a divulgação feita, a entidade industrial registra em seu banco de dados mais de 3 mil produtos certificados.

Quanto à receita auferida pelas vendas da indústria, a estimativa feita pela instituição representativa para 2021 é de R$ 15,2 bilhões. Em relação a preços no varejo, por categoria de qualidade, foi constatada variação de respectivos 40,3 e 39,3%, para Tradicional e Extraforte, e de 28,1 e 20,8%, para Superior e Gourmet. Ainda sobre consumo de café, se observada a demanda por canais de comercialização, a maior parcela (de 49%) foi canalizada por meio de supermercados e hipermercados.

(Texto publicado no Anuário Brasileiro do Café 2022, da Editora Gazeta)