Caipira estilosa

País tem 40 mil produtores, que oferecem 1,5 bilhão de litros por ano

Não há brasileiro que não tenha ao menos alguma informação sobre a cachaça, a bebida-símbolo dentre os destilados nacionais. Podem até nem todos serem consumidores, pelas mais variadas razões, mas que o produto obtido da cana-de-açúcar é um patrimônio cultural do País, disso ninguém duvidará. A mesma constatação já é corrente no mundo, uma vez que dezenas de nações se renderam à cachaça. E um dos drinques clássicos feito com cachaça completa 100 anos em 2018, razão suficiente para que muitos brindes sejam propostos.

A cachaça se fez presente na história ao longo dos 500 anos de ocupação do território. O segmento da cana-de-açúcar, enquanto cultivo e industrialização, foi uma das primeiras atividades econômicas da colônia quando da chegada dos portugueses. Em três séculos de ocupação, o açúcar e a cachaça foram largamente produzidos e comercializados. E na caminhada do Brasil independente os produtos da cana seguiram como bases da economia.

Assim chegaram ao século XXI. A cachaça vem sendo cada vez mais apreciada no exterior, reconhecida como destilado made in Brazil, embora a participação das vendas externas em relação ao volume produzido ainda seja pequena. Hoje, o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) responde pelos esforços de organização e aglutinação de fabricantes e por promoção e divulgação da bebida.

O setor estima que cerca de 40 mil produtores estejam na atividade e que a produção da bebida chegue a 1,5 bilhão de litros por ano, movimentando R$ 7 bilhões anuais. Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2018 as exportações proporcionaram receita de quase US$ 8 bilhões no primeiro semestre, na média de 2017, quando as vendas anuais fecharam em US$ 15,8 bilhões. Os Estados Unidos são o maior cliente, seguidos de Alemanha e Paraguai. O Estado de São Paulo é a origem de 54,17% das exportações, ou US$ 4,3 milhões em receita.

Apesar do grande apelo da bebida, e de a cachaça ser o terceiro destilado mais consumido no mundo, as exportações ainda são incipientes em relação ao consumo interno e, mesmo, ao montante da produção. Estimativas da cadeia dão conta de que as vendas externas ficam aquém de 1% da produção, e as marcas que conquistam espaços no exterior buscam agregar diferenciais, como a produção orgânica ou o conceito artesanal.

Dentro e fora do Brasil a cachaça costuma ser intimamente relacionada à caipirinha, mistura simples de suco de limão, açúcar e cachaça, servido com gelo. Esse drinque arranca suspiros entre os apreciadores. E tudo começou, dizem os especialistas, em 1918, em Piracicaba, no interior de São Paulo. Há quem defenda que no princípio a mistura era servida como um remédio, incluindo ainda alho e mel. Remédio ou não, ou tenha tido experimentos anteriores ou envolvido outros ingredientes, o fato é que se popularizou de tal forma que o Brasil se tornou pequeno demais para essa obra-prima. Ela queria conquistar o mundo. E conquistou.