Caindo pelas tabelas

Transferência de renda pode superar 5 bilhões de dólares e onera o setor

O agronegócio, locomotiva da economia que às vezes percorre longos e tortuosos caminhos com o sobrepeso do Custo Brasil, está perdendo potência com o tabelamento dos fretes rodoviários. O alerta é de Sérgio Castanho Teixeira Mendes, diretor geral da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).

Estudo da entidade estima que US$ 5 bilhões serão agregados ao custo de logística da safra agrícola 2018/19 – considerando-se soja e milho – por conta do tabelamento, o que irá reduzir a renda do produtor e da indústria, as margens operacionais e a competitividade do setor. Para Mendes, os novos preços de frete são impagáveis e decorrem de uma intervenção governamental indevida e equivocada sobre as regras de mercado.

Embora acredite na reversão pela Justiça e no restabelecimento de preços por fundamentos mercadológicos, o dirigente preocupa-se com o futuro, pois este fator gera insegurança jurídica e restringe investimentos. “Quem investirá com as regras mudando, e para pior, em pleno andamento do jogo?”, questiona. Uma maneira de neutralizar o impacto do frete, procurada pelas empresas, é formar frotas próprias. “É um custo gerado para reduzir outro. Administrar frota não é nosso negócio ou objetivo”, resume.

Com a soja brasileira bem-demandada, graças ao conflito comercial entre Estados Unidos e China, que gerou prêmios interessantes, os exportadores brasileiros estão bancando o valor extra do transporte, imposto após a colheita de 2018. No ciclo 2018/19, porém, incidirá no recebimento de insumos e no escoamento da safra, afetando toda a cadeia produtiva. “Assumimos o desembolso para honrar os compromissos internacionais, pois o pior dos mundos da exportação é a quebra de contrato. Operando com margens líquidas em torno de 1%, só se paga mais porque não há outra maneira. O mercado é baseado na credibilidade e perdê-la seria uma tragédia para o País”, resume.

Mendes lembra que o setor aporta cerca de US$ 40 bilhões à balança comercial brasileira, o que dispensa cálculos mais apurados para mostrar a relevância de um aumento de US$ 5 bilhões em custos de frete. “Numa commodity com preços balizados por Bolsa de Mercadorias não se pode ter um de seus elos com renda tabelada acima do que o mercado paga, pois há oscilação natural nos preços. O que estamos vivendo no Brasil é um absurdo”, frisa.

MARCO

O diretor geral da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Castanho Teixeira Mendes, considera que o tabelamento dos fretes é um marco na história das exportações brasileiras no mesmo patamar da Lei Kandir. “No entanto, enquanto a lei serviu para favorecer as vendas ao exterior, a nova regra faz exatamente o contrário: onera os embarques e retira a competitividade da soja brasileira”, afirma. Mendes aconselha cautela aos empresários e aos produtores e considera que as empresas representativas do agronegócio devem seguir pressionando por posicionamento da Justiça e do governo. “Temos de seguir trabalhando e com esperanças de que essa medida será revista e anulada”, encerra.