Volta ao passado

Ano comercial registrou queda de até 26% de preço nos supermercados

Se tem algo do qual o consumidor brasileiro não pode se queixar é o preço do arroz nos supermercados e armazéns. O grão, que compõe com o feijão o pilar da alimentação nacional, está entre os produtos mais baratos e acessíveis da cesta básica. Os preços caíram até 26% na pesquisa mensal realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Todos os meses o Dieese avalia o comportamento de preços de 13 produtos em 20 capitais brasileiras. O arroz vem se destacando entre aqueles que mais perderam preço na última temporada. A maior queda acumulada em 12 meses na pesquisa realizada em março, apontando exatamente o período do ano comercial da cultura (março de 2017 a fevereiro de 2018), ocorreu em Cuiabá, no Mato Grosso (região Centro-Oeste), acumulando -26,76%. O valor médio de um quilo de arroz branco, Tipo 1, caiu de R$ 3,55 para R$ 2,71.

A menor queda no período foi registrada em Fortaleza, no Ceará (região Nordeste), de -3,17%, baixando de R$ 3,54 para R$ 3,03, entre março de 2017 e fevereiro de 2018. No maior centro consumidor do Brasil houve a segunda menor retração no valor desembolsado por um quilo do cereal, de -5,88%, de R$ 3,08 para R$ 2,88.

Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), destaca que os preços médios voltaram a patamares praticados há 10 anos. “A retração dos preços ao produtor chegou a mais de 30% entre o pico de 2016, em R$ 50,00, e a média de R$ 34,00 no final de fevereiro de 2018, e parte disso chegou à ponta, ao consumidor, mas outros fatores envolvidos na relação entre atacado, varejo e indústria e na correlação entre mercado interno e externo determinam a formação de preços”, reconhece.

Frisa, porém, que o menor custo para um ou dois segmentos da cadeia produtiva do arroz está saindo caro para o agricultor. “A imensa maioria dos produtores está operando no prejuízo para bancar este preço nas gôndolas”, salienta. Apesar da média de R$ 12,00 a R$ 13,00 por cinco quilos de arroz do Tipo 1 em todo o Brasil, ao longo do ano diversas marcas e promoções nos supermercados ofereceram este volume, com esta especificação, por até R$ 6,78.

Quem aproveitou as promoções chegou a adquirir produto com até 50% de desconto sobre o valor original, que já estava até 30% abaixo dos valores praticados em 2016, segundo pesquisas de preços recorrentes de entidades e consultorias. Algumas das ofertas eram pautadas em produtos importados do Paraguai. Marcas que lideram o mercado, fazem uso de variedades nobres e aceitam mínimo percentual de defeitos no pacote, no entanto, chegam a valer R$ 23,00 por quilo nas gôndolas.

GATO POR LEBRE

A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) alerta para que os consumidores tenham muito cuidado com as promoções. “Colhemos e enviamos às áreas de fiscalização e de saúde pública provas de marcas que comercializam arroz dos tipos 2 e 3 como se fossem do tipo 1”, avisa Alexandre de Azevedo Velho, vice-presidente da Federarroz. “Portanto, há uma fraude em marcas nacionais, muitas com uso de arroz importado, quanto à classificação. Houve diversas apreensões de arroz no Centro-Oeste, no Sudeste e no Nordeste, cujas especificações da embalagem não condiziam com o produto inferior que continham”. Denúncias foram encaminhadas aos setores de fiscalização do governo federal, e também aos governos estaduais e ao Ministério Público.