Um Brasil que dá gosto de ver!

Romar Rudolfo Beling
Gestor de Conteúdo Multimídia
romar@editoragazeta.com.br

Enquanto o Brasil ainda discute a pandemia e a política, no campo os agricultores estão empenhados em colher a maior safra de grãos da história deste país.

O Brasil, em suas instâncias públicas e privadas, segue de tal forma envolvido em discussões atinentes à saúde, com a pandemia ainda presente na paisagem social, e à política que nem se deu conta de uma grande façanha que está sendo protagonizada neste exato instante. E o simples fato de não estar se dando conta (e, ao não se dar conta, de não estar valorizando esse feito como ele merece) só reforça que o Brasil urbano, inclusive em seus
organismos de governo, tem muito pouco mérito na concretização dessa conquista épica, e isso se lá tem algum mérito sequer.
Trata-se da safra de grãos. Isso mesmo: o Brasil está envolvido, com energia e disposição ímpares, na colheita da (rufem os tambores!) maior safra de grãos de todos os tempos no País.
Colheitadeiras percorrem lavouras dia e noite, sem perder um minuto sequer, e caminhões cruzam pelas estradas, levantando poeira, rumo aos silos e aos armazéns. Entre os produtores, o entusiasmo é tamanho porque a combinação de empenho, clima favorável e cenário internacional demandante de proteínas criou o ambiente perfeito para fazer um bom dinheiro. A avaliação é de que se assegura nesta safra remuneração equivalente a quase duas.
Por aí já se pode depreender o quanto destoam as perspectivas para quem lida na agricultura e para quem apostou na cidade, isso até quando houve investimento em formação e qualificação para os setores aos quais alguém pretende se dedicar. Em campanhas de mídia, sugere-se que o agro é pop. Ele é muito mais do que isso. Ele é a força motriz, único futuro possível para a sociedade, diante da tendência de cada vez mais pessoas deixarem o campo para se concentrar em cidades, nas quais de imediato se tornam dependentes de alimentos.
Pois a safra 2020/21 de soja no Rio Grande do Sul será 80% (!) maior do que a anterior: ou seja, o ingresso de recursos no campo saltará em proporção muito próxima disso. Se o dinheiro circula no interior, e de lá será injetado no comércio e nos serviços, não estaria mais do que na hora de o poder público retribuir com investimentos em logística, infraestrutura, comunicações, internet, saúde, lazer e qualidade de vida na mesma proporção? O Brasil colherá 273,8 milhões de toneladas de grãos, informa a Conab, 6,5% a mais em relação ao ciclo anterior. Em plena pandemia! Os gaúchos participam com 24,6 milhões de toneladas! Têm o tabaco, cuja renda é sempre vital em pequenas propriedades. E alguém por aí alguma vez ouviu o presidente Jair Bolsonaro ou qualquer outra liderança mencionar ou enaltecer essa conquista ímpar, que é dos agricultores brasileiros?
Esse é o problema: o Brasil é um país de tal forma urbano, ocupado com seu umbiguinho, que só lembra do meio rural ao reclamar do valor de algum alimento, e já nem sabe distinguir o trigo do joio (o que não deixa de ser o mesmo que confundir notícia verdadeira com fake news). Alheio a isso, o campo colhe as riquezas de que o País precisa para retomar o desenvolvimento econômico e social. Parabéns, caros agricultores, por essa façanha
épica! E um bom final de semana a todos.