Tempos de superação

Sem a JBS operando a pleno, outros frigoríficos assumiram o desafio

Que 2017 foi um ano atípico para a pecuária, depois do envolvimento dos dirigentes do maior frigorífico nacional (a JBS) com delação de escândalos de corrupção no ambiente dos poderes federais, e da repercussão negativa da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, ninguém duvida. Mas em pleno 2017 todo mundo duvidava que o Brasil alcançasse um bom resultado nas exportações de carne. E não é que o setor não só alcançou como também superou o volume e os valores obtidos em 2017?

Com menor presença da JBS, maior player brasileiro, outros frigoríficos preencheram a lacuna, expandiram os abates e voltaram a operar em plantas paradas, elevando a participação no mercado doméstico e externo. Desta forma, apesar das conturbações internas, e aproveitando o cenário de oferta instável no mundo, as vendas brasileiras de carne bovina acumulam 1.534.462,47 toneladas, com alta de 9,57% sobre a performance de 2016. Em valores, subiu 13,94%, para US$ 6.284.789,06. A média de preços da soma de carne in natura, miúdos, industrializada, tripas e carnes salgadas foi elevada em 3,99%, para US$ 4.095,76. A desvalorização do real ajudou.

Fora isso, o Brasil teve excelente exportação de boi em pé, e fechou 2017 com 400,66 mil cabeças embarcadas e US$ 263 milhões em receita. Os principais compradores foram Turquia, Egito, Líbano e Jordânia. O crescimento foi de 46% em volume.

Já em 2018, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) registrou crescimento de apenas 4% em toneladas e 3% na receita cambial das remessas para o mercado externo da bovinocultura nos primeiros seis meses do ano. De janeiro a junho, as vendas atingiram 681.910 toneladas, o equivalente a US$ 2,71 bilhões. Conforme a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), junho foi o terceiro mês consecutivo de baixa, prejudicado pela greve dos caminhoneiros, que não permitiu embarques, e pela ausência da Rússia nas importações desde 2017.

A entidade considera o segundo semestre de 2018 de recuperação, pois os maiores clientes tendem a elevar as compras e a Rússia deve voltar a comprar. A maior parcela das exportações (43%) foi para a China, por meio de Hong Kong e do continente, que adquiriu 296.428 toneladas nos seis primeiros meses do ano, com receita de US$ 1,21 bilhão. No total, 78 países aumentaram as compras e 61 reduziram. Os números carregam uma polêmica. Em abril houve a alteração no método estatístico do MDIC, que gerou protestos da cadeia produtiva.

Em julho, a exportação de carne bovina in natura somou 130,9 mil toneladas, volume 140,6% superior a junho. Na variação anual, avanço de 24,4%. A receita com a proteína animal atingiu US$ 636,7 milhões no mês, aumento de 128,3% frente a junho. No ano, o desempenho da carne bovina in natura soma 664,9 mil toneladas, 5,65% acima do embarcado em igual período de 2017. A receita cresceu 13,1%, de US$ 2,538 bilhões para US$ 2,872 bilhões.

CONFIANTE

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardeli, acredita em um 2018 com resultados pouco superiores a 2017 e põe fé em números ainda mais promissores em 2019. Para ele, além de superar barreiras comerciais, como a da Rússia, o grande desafio do Brasil, que exporta 20% da carne bovina que produz por ano, é agregar valor às exportações. Embora seja o maior exportador mundial de carne bovina em volume, o Brasil é apenas o terceiro em receita, atrás dos Estados Unidos e da Austrália.