Opção líquida

Produção brasileira de etanol mostra força no começo do ciclo 2018/19

Já no final da etapa 2017/18, com o açúcar recuando nos preços e o etanol (em particular o hidratado) apresentando maior demanda e retorno, as usinas de cana-de-açúcar utilizaram mais matéria-prima para produzir o biocombustível. O direcionamento se intensificou no começo da nova safra, a partir de abril de 2018, tanto que nos primeiros três meses as unidades de produção no Centro-Sul, região que lidera com folga no setor, mostravam crescimento de 76% no uso da cana para fabricar o hidratado, em relação ao mesmo período anterior, enquanto a quantia ofertada de anidro (adicionado à gasolina) era semelhante à do ano anterior.

Ao final da última safra, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) levantava volumes similares de etanol produzido, na comparação com os da temporada anterior, enquanto a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) já apurava superação dos números passados. A instituição pública também registrava “o aumento das vendas do biocombustível ocasionado pela majoração nos preços da gasolina, cujo consumo diminuiu então”, resultando em acréscimo de 5% na demanda do hidratado. A Unica já registrava ampliação de 8% nessas vendas no Centro-Sul, e com destinação de 94% ao mercado interno.

Esse cenário de consumo, além do ganho de competitividade também verificado, acentuou então Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, sustentava já expectativa de safra 2018/19 mais alcooleira, o que “amplia a garantia de suprimento de combustível limpo e renovável no mercado doméstico”. Ao final do primeiro trimestre da nova temporada, verificava que os preços do hidratado permaneciam “muito competitivos”, citando que em maio a paridade média com a gasolina atingia 65% (bem abaixo do índice de limite previsto, de 73%) nos principais estados, e as vendas cresciam 12% a mais do que no mesmo trimestre em 2017.

O ganho de competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina aquece a demanda pelo biocombustível nos principais centros consumidores e amplia a procura para reposição dos estoques das distribuidoras e dos postos”, reforçavam Bruno Nogueira e Fábio Silva Costa, em análise da Conab em junho de 2018. Também observavam “expressivo aumento da oferta de etanol”, com o avanço da colheita de cana-de-açúcar no Centro-Sul, responsável por cerca de 94% da produção (com destaque para São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul), o que não impedia “viés de alta dos preços”, assegurado justamente pela demanda em elevação.

MOVIMENTO MUNDIAL

Os levantamentos da Conab em meados de 2018 ainda mostravam alguma recuperação nas exportações do etanol do Brasil, segundo maior produtor mundial, depois dos Estados Unidos, cuja produção provém do milho. Conforme os seus analistas, vinha apoiada pela situação cambial, mas o mercado interno favorável limitava o crescimento externo mais expressivo, onde as vendas ainda ficavam abaixo do registrado no ano anterior. As importações do produto, por sua vez, conforme dados divulgados no setor, da mesma forma registravam alguma redução em maio e junho, mas em seis meses ainda superavam os volumes exportados.

Na safra 2017/18, a importação de etanol atingiu 1,7 bilhão de litros, proveniente basicamente do maior produtor, Estados Unidos, enquanto a exportação brasileira chegou a 1,4 bilhão de litros, 64% para aquele país e 23% para a Coreia do Sul. Na atual safra, mesmo com imposição de tarifa, a previsão no setor em junho indicava que as aquisições externas seriam mantidas em nível semelhante às do ano anterior, enquanto as exportações poderiam cair devido a maior demanda interna e limites na produção e nos preços. De acordo com dados da Renewable Fuels Association (RFA), em 2017 a produção mundial cresceu 1,8%, para 102,4 bilhões de litros, respondendo os Estados Unidos por 58% e o Brasil por 26% do total.