O agro e os compromissos com a economia verde

Dirigente de conselho sustentável considera de extrema relevância o acordo mundial para a redução das emissões de metano em 30% até 2030

Há 11 anos, a economista Marina Grossi é a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), fundado em 1997. Na sua avaliação, a 26ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP26), da Organização das Nações Unidas (ONU), foi emblemática sob muitos aspectos. A participação ativa e numerosa da sociedade civil marcou a COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro de 2021. “Em nenhuma outra COP tivemos tantos líderes empresariais como nesta, estabelecendo compromissos e colaborando na busca por novos caminhos para descarbonizar a economia”, compara.

Para Grossi, a atuação das empresas brasileiras foi destaque. “O setor se posicionou de forma clara por uma agenda sustentável”, afirma. Além disso, acrescenta que o CEBDS capitaneou o posicionamento “Empresários pelo Clima”, que teve a assinatura de 119 CEOs e 14 entidades defendendo o desenvolvimento sustentável. “Essa pressão deu resultado, já que o governo brasileiro confirmou a antecipação da meta de neutralidade climática de 2060 para 2050 e prometeu reduzir em 50% as emissões até 2030. Eram demandas defendidas pelo conselho e empresas associadas”, declara. Salienta ainda que lideranças do agronegócio brasileiro participaram do evento e apresentaram ações e compromissos em direção a uma economia verde. “As empresas demonstraram que estão agindo no combate ao aquecimento global”, comenta.

Assim como os demais que estiveram lá, assistiu de perto a uma série de decisões relevantes. Entre elas, globalmente, destaca a regulamentação do Artigo 6 (mercado global de carbono); a menção no documento final para a redução do uso de carvão e de incentivos aos combustíveis fósseis; o Acordo do Metano, que propõe cortar suas emissões em 30% até o fim da década; e o Compromisso sobre Florestas, que teve o apoio de mais de 100 países para acabar com o desmatamento até 2030.

Quando pensamos especificamente no agronegócio, a COP26 trouxe um tema de extrema importância e que não estava entre as principais discussões previstas para o evento”, observa. A executiva se refere ao acordo sobre o metano, assinado por mais de 100 países, entre eles o Brasil. O objetivo é reduzir as emissões desse gás em 30% até 2030, em relação aos níveis de 2020.

De acordo com Grossi, esse acordo se relaciona diretamente com o agronegócio brasileiro, que já desenvolve tecnologias e ações para a remoção desse gás de seu processo produtivo, o que pode colocar as empresas nacionais na dianteira. Como exemplos, cita o uso de um novo aditivo nas rações, que diminui em até 55% as emissões de metano, e a adição de capim-limão e tanino à alimentação bovina, que também reduz a liberação do gás durante a digestão dos animais.

CONTRIBUIÇÕES DO SETOR

Grossi lembra que existem outras formas de o agro contribuir com a solução climática. O modelo de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é um exemplo. A mesma propriedade agrega diferentes sistemas produtivos – grãos, fibras, carne, leite e agroenergia, além da manutenção da floresta. A diversificação de culturas ajuda na recuperação de solos degradados e minimiza riscos para o produtor, que terá cada vez mais oportunidades de expandir sua produção ao mesmo tempo em que reduz seu impacto ambiental.

Ampliar o estímulo às iniciativas agrícolas de baixo carborno é um ponto relevante”, aponta a presidente. Esclarece que existem soluções testadas e escaláveis para aumento da produtividade com financiamento subsidiado por meio do Plano ABC, evitando a necessidade de abertura de novas áreas e abrindo espaço para atividades de restauro. “O uso da tecnologia tem sido um aliado importante e que deve ser intensificado, como no rastreamento da cadeia produtiva e no aumento da eficiência na produção”, opina.

Para o futuro, segundo Grossi, vale lembrar que os compromissos assumidos pelos países na COP26 têm metas e expectativas, e o mundo vai cobrar resultados concretos na Conferência em 2022 no Egito. “Temos, portanto, a necessidade de planejar os próximos passos, mostrar resultados e aproveitar as oportunidades”, resume.

PERFIL

A economista Marina Grossi assumiu a presidência do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) em 2010. Antes, havia atuado como diretora-executiva e coordenadora das Câmaras Temáticas de Mudança do Clima e Energia, Construção Sustentável e Finanças Sustentáveis do CEBDS. Entre 2018 e 2019, integrou o steering committee da Carbon Price Leadership Coalition (CPLC), conselho diretivo da coalizão do Banco Mundial voltada para a precificação de carbono. Atualmente é membro do Conselho da BV Rio. Possui vasta experiência na área pública, atuando como negociadora do Brasil na Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP do Clima) entre 1997 a 2001. Foi coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003. Participou das negociações do Protocolo de Kyoto e representou o Grupo dos 77 (G77) mais China na área de Mecanismo Financeiro na COP 6 ½. Foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia, na Coordenação de Pesquisa em Mudanças Globais. Em 2003 fundou e presidiu a consultoria em Sustentabilidade Fábrica Éthica Brasil (FEB), prestando assessoria para governos e empresas, lançando, entre outras iniciativas o projeto “Carbon Disclosure Project”, quando conheceu o CEBDS e passou a focar sua atuação em sustentabilidade junto às empresas.

CEBDS

Fundado em 1997, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) é uma associação civil sem fins lucrativos. Reúne cerca de 80 dos maiores grupos empresariais do Brasil, responsáveis por 47% do PIB nacional e 1,1 milhão de empregos. O desenvolvimento sustentável é promovido por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil, além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais do tema. Representa no Brasil a rede do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com quase 60 conselhos nacionais e regionais em 36 países e de 22 setores industriais, além de 200 grupos empresariais. Mais informações em https://cebds.org.

(Publicado na seção Ponto de Vista da Revista AgroBrasil – Balanço Brasileiro do Agronegócio 2021/2022, da Editora Gazeta)