Milho mais produtivo

Novo inoculante biológico aumenta em média cerca de 10% a produtividade do milho, com custo menor e sem causar danos ambientais. BiomaPhos potencializa a capacidade de absorção de fósforo da planta.

O primeiro inoculante biológico que eleva a capacidade de absorção de fósforo pelo milho já está disponível para os produtores brasileiros. A tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com a empresa Bioma. O inoculante denominado BiomaPhos está sendo apresentado em vários estados desde agosto de 2019. O produto alia sustentabilidade e produtividade porque é biológico – elaborado a partir de duas bactérias identificadas pela Embrapa, sendo uma no solo e outra no milho. Por ser capaz de aumentar a absorção de fósforo pelas plantas, o produto poderá contribuir para reduzir a alta dependência de fertilizantes do exterior.

À Embrapa coube a parte de pesquisa, com a identificação das bactérias que apresentam aptidão para solubilizar ou tornar disponível o elemento fosfato. Esse mineral é indispensável para o crescimento e a produção vegetal, já que interfere nos processos de fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de energia. Concluída essa etapa, a empresa Bioma estabeleceu os índices de produção em larga escala e a formulação do produto, que permitiram melhorar a sobrevivência do inoculante na prateleira e nas condições de campo.

“As cepas das bactérias Bacillus subtilis (CNPMS B2084) e Bacillus megaterium (CNPMS B119) conseguem fazer com que maior quantidade de fósforo seja absorvida pelas raízes, recebendo em troca compostos fundamentais para o crescimento bacteriano, como fontes de carbono, em especial açúcares e ácidos orgânicos”, esclarece Christiane Paiva, pesquisadora da área de Microbiologia do Solo da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG), responsável pela pesquisa.

Experimentos no milho conduzidos em regiões do País demonstraram aumentos médios de produção de grãos de cerca de 10%, o que pode corresponder a um incremento médio de até 600 quilos por hectare. “Esses experimentos avaliaram a inoculação combinada com a adubação reduzida de superfosfato triplo, o que pode diminuir o gasto com fertilizantes sintéticos”, aponta Christiane. Outro diferencial do uso do BiomaPhos é a redução significativa no índice de emissão de CO2 na atmosfera. Para ela, os resultados revelaram que é possível empregar uma tecnologia limpa e de baixo custo na cultura, contribuindo para a sustentabilidade na agricultura, sem perdas para o meio ambiente.

Os inoculantes produzidos com esses microrganismos apresentam menor custo, não causam danos ambientais e ainda podem ser usados para suplementar os fertilizantes. “Além disso, a adição de inoculantes no solo pode acelerar a ciclagem de nutrientes, aumentar a liberação do fósforo presente na matéria orgânica e enriquecer o solo biologicamente. Também apresentam outros mecanismos de promoção de crescimento para as plantas”, acrescenta. Estudos da Embrapa revelaram que há um estoque bilionário de fósforo nos solos, que se encontra inerte e que não pode ser aproveitado pelas plantas.

Em alguns solos de plantio direto, cerca de 88% do fósforo encontra-se em forma orgânica, indisponível para ser assimilado pelas raízes, e precisa ser mineralizado para esse fim. “As bactérias solubilizadoras de fosfatos conseguem disponibilizar o elemento para a planta, atuando de forma agronômica nesse grande estoque presente na natureza”, interpreta Christiane. O uso complementar do inoculante à adubação vem ganhando espaço na cultura do milho, por ser uma planta de ciclo curto e altamente exigente em nutrientes.

EFICIÊNCIA
A estabilidade é outra vantagem do inoculante, que possui a capacidade de formação de esporos das bactérias selecionadas, permitindo sua adaptação a condições extremas, como temperaturas, pH ou exposição a pesticidas. O uso de inoculantes para suprir a demanda de fósforo pelas plantas ainda é incipiente no Brasil. “Países como Argentina, Canadá, África do Sul, Índia, Austrália, Filipinas e Estados Unidos têm investido na linha de bioprodutos visando reduzir o uso de adubos fosfatados, além de propiciar aumento na oferta de produtos que aumentem a tolerância das plantas a esses estresses de forma eficiente”, relata.

O chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antônio Álvaro Corsetti Purcino, reforçou o potencial de expansão dos produtos biológicos na agricultura brasileira, como os vírus e inimigos naturais de pragas, que fazem parte do portfólio da Empresa. “O BiomaPhos traz como vantagem a promoção do crescimento tanto da parte aérea quanto das raízes das plantas, permitindo maior produção e maior produtividade. O produto vai contribuir para maior sustentabilidade no agronegócio brasileiro”, opina.