Mais um recorde na conta

País passou para o lugar de segundo maior exportador mundial da fibra

O Brasil deu grande salto na produção de algodão nas últimas safras e, em consequência, na exportação. A colheita recorde de 2,725 milhões de toneladas no ciclo 2018/19 se distanciou ainda mais dos resultados anteriores, de 2,005 milhões de toneladas na temporada 2017/18 e de 1,529 milhão de toneladas no ciclo 2017/16. A previsão é produzir 2,75 milhões de toneladas no período 2019/20, com aumento de 1,1%, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em janeiro de 2020.

O volume previsto será um dos maiores da série histórica do algodão brasileiro, influenciado pelos grandes investimentos feitos no setor e pela expansão da área destinada ao cultivo, observam os técnicos da estatal. Os estados do Mato Grosso e da Bahia devem responder por mais de 88% do total de produção projetado. A área plantada com algodão está estimada em 1,661 milhão de hectares para a safra 2019/20, com acréscimo de 2,7% em relação aos 1,618 milhão de hectares ocupados no ciclo anterior, que havia crescido 37,8%.

Graças ao recente avanço de produção, o Brasil passou a deter mais de 20% do mercado global da fibra. Há três ciclos, a participação era de 7%. Também se tornou o segundo maior exportador de algodão do mundo, além de quarto maior produtor. O presidente da Abrapa, Milton Garbugio, ressalta que a retomada da cultura tem papel importante para a economia nacional. “Hoje, a cadeia produtiva do algodão movimenta mais de US$ 74 bilhões, gera impostos, emprego e renda no Brasil”, aponta.

O Brasil era o segundo maior importador mundial de algodão quando a Abrapa foi criada, em 1999, relembra Garbugio. “Para evitar a extinção da atividade, foi preciso reorganizar, reunir, e recriar sob novos paradigmas a maneira de produzir”, relata. Também destaca o comprometimento dos cotonicultores com a sustentabilidade, a qualidade, a rastreabilidade e a promoção da pluma nos mercados interno e externo.

A partir da última safra 2018/19, o País passou a influenciar os preços no mercado de algodão. “A nossa pluma, que já era reconhecida pela qualidade e pela sustentabilidade, agora também tem escala maior e passa a suprir a indústria ao longo de 12 meses”, declara. Conforme ele, no segundo semestre de 2019, preços menos atrativos na Bolsa de Nova Iorque contribuíram para os cotonicultores não avançarem ainda mais na área. O valor da commodity chegou a custar US$ 0,57.

Grande parte do algodão produzido no Brasil precisa ser direcionado ao mercado externo. Com o consumo interno estimado em 720 mil toneladas para 2020, o restante da pluma, 2,050 milhões de toneladas, vai depender da demanda externa. O Estado do Mato Grasso, principal produtor de algodão do País, já havia comercializado com antecedência 50% da estimativa de 1,877 milhão de toneladas para a safra 2019/20, segundo levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgado em dezembro de 2019.

As exportações brasileiras totalizaram 1,610 milhão de toneladas e US$ 2,638 bilhões no ano civil de 2019, de acordo com o sistema Agrostat do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O embarque recorde teve aumento de 65% em volume e de 56% em valor. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Sniticovski, disse que os pontos fortes da pluma brasileira perante os clientes externos são qualidade, volume e, principalmente, constância na oferta.

PELA ÁSIA

A China liderou as compras do Brasil com a importação de 500 mil toneladas e de US$ 817 milhões em 2019. A maior demanda chinesa é reflexo da guerra comercial travada com os Estados Unidos desde 2018 e da redução dos próprios estoques. “Ampliamos a nossa participação nesse mercado em relação aos Estados Unidos, que liderava como principal fornecedor. Mas essa alta também se deu em função da qualidade, da sustentabilidade, e, sobretudo, da capacidade de embarque, que vem superando expectativas”, explica Henrique Sniticovski, presidente da Anea.

Um total de 32 países importaram a pluma brasileira em 2019. Depois da China, os maiores compradores foram Vietnã, Indonésia, Bangladesh, Turquia e Paquistão. Em 2018, o Brasil exportou para a China 436,5 mil toneladas de pluma. O país asiático importa no total 2 milhões de toneladas da commodity. Estima-se que tenha déficit de três milhões de toneladas para suprir o seu parque industrial.