N
o início dos anos 2000, a
Metade Sul gaúcha era
a terra prometida para o
cultivo de eucalipto em
escala industrial. Um enorme con-
junto de características apontava
a região do Pampa, desde o Rio
Grande do Sul até o Uruguai ou a
Argentina, como a área ideal para
a expansão de grandes empresas
de celulose do Brasil e do exterior.
Até uma fábrica da então Votoran-
tin (hoje Fibria) no eixo Pelotas/
RioGrande/Arroio Grande estava
prevista, com investimento de US$
1,4bilhão.
Então veio a crise de 2008 e o
projeto foi abortado. De legado ao
RioGrandedoSul ficaramcercade
14mil hectares de floresta e quase
270 contratos com produtores ru-
rais, que arrendarampartede suas
propriedadesàempresa.Hoje,pas-
sada mais de uma década, muitos
dos agricultores comemoram e ao
mesmo tempo lamentam o desfe-
chodos investimentos na região. A
produtores
queapostaram
emflorestas
comerciaisFESTEJAm
oresultadoe
almejamSEGUIr
naatividade
silviCULTURA
Floresta
encantada
euforia épelos resultados alcança-
dos. O pesar, pela descontinuida-
de do programa.
Seu Osmar Soares, de 68 anos,
é umdosmilhares de personagens
desta saga florestal. Foi umdos pri-
meiros a aderir ao plantio, na loca-
lidade de Olhos D’Água, em Bagé.
“Os vizinhos olhavam desconfia-
dos. Havia um preconceito muito
grande”, lembra ele, que, mesmo
assim, destinou 18 hectares dos 45
da propriedade ao cultivo de euca-
lipto, em2006.
O resultado foi melhor do que o
esperado. A produtividade chegou
aos 310m³ por hectare, mais de
10%acima do previsto. No caso do
seuOsmar, amadeira já foi retirada
pela Fibria, que segue fazendo a
colheita junto aos produtores com
quem tem contrato, mesmo sem a
instalação da fábrica no Estado. Os
troncos são levados de caminhão
até o porto de Rio Grande e, de lá,
por cabotagem, transportados até
uma fábricadaempresanoEspírito
Santo. “É uma operação onerosa,
mas que reforçanossovínculocom
os gaúchos. Muitos produtores vão
seguir no cultivo, um legado que a
Fíbria deixa ao Estado”, diz o super-
visor líder da Fíbria no Rio Grande
doSul, LeonardoSantosdeSouza.
Comareceitadoarrendamento,
seu Osmar comprou duas casas na
áreaurbanadeBagé. E, justamente
pelo retorno que teve, quer conti-
nuar na atividade, mesmo sem a
Fibria. “É muito interessante. Eu
gostei da experiência e pretendo
continuar. Precisamosdiversificar a
renda.Noprimeiroano, planteimi-
lho juntoaoeucalipto. Depoispode
entrar a pecuária de ovinos. Emais
tardeadebovinos”, explica.
É para apoiar produtores
como seu Osmar que a Emater
desenvolveu o Programa Pou-
pança Florestal, que prevê a
orientação quanto a rebrota-
mento e manejo do eucalipto,
além da busca por novos mer-
cados para amadeira. O geren-
te adjunto da Emater/RS-Ascar
emBagé, Rodolfo Perske, expli-
ca que a instituição tem atua-
do junto a 28 municípios com
tal finalidade. “A nossa ideia é
assessorar este produtor que
queira continuar, uma vez que
o mesmo pode extrair excelen-
te receita. Hoje, o conhecimen-
to técnico a respeito do tema
é muito mais amplo, tanto de
nossa parte quanto do homem
do campo. E a própria Fibria
tem auxiliado neste sentido”,
explica.
No caso de produtores que
têm interesse em permanecer
na atividade, técnicos da Ema-
ter/RS-Ascar vão usar os dados
do inventário florestal para
conduzir a segunda brotação e
auxiliá-los no rumo que darão
à produção de madeira. “Aqui
na região temos o mercado de
mourões, que é forte, e no qual
há carência muito grande. Da
mesma forma, há outras em-
presas de celulose”, ressalta.
Para continuar
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JORNAL DA
EMATER
JUNHO de 2017