“a casa”
não está nomar aminha casa/ nemno ar /
na graça de tuas palavras eu vivo/
***
“fábricas de amor”
I
E construí teu rosto.
Comadivinhanças do amor, construía teu rosto
nos longínquos quintais da infância.
Pedreiro com vergonha,
eume ocultei domundo para talhar tua imagem,
para dar-te a voz,
para pôr doçura em tua saliva.
Quantas vezes tremi
coberto apenas pela luz do verão
enquanto te descrevia pelomeu sangue.
Puraminha
estás feita de quantas estações,
e tua graça descende de quantos crepúsculos?
Quantas deminhas jornadas inventaramas tuas mãos?
Que infinidade de beijos contra a solidão
afunda teus passos no pó?
Eu te oficiei, te recitei pelos caminhos,
escrevi todos os teus nomes no fundo daminha sombra,
fiz para ti um lugar emmeu leito,
te amei, vestígio invisível, noite a noite.
Assim foi que cantaramos silêncios.
Anos e anos trabalhei para fazer-te
antes de ouvir umúnico somda tua alma.
Juan Gelman
Amor que serena, termina?
(Tradução de Eric Nepomuceno)
Record, 2001