E
m 2016, a crise econômica brasi-
leira reduziu a demanda de car-
ne bovina no mercado domés-
tico, estabelecendo cenário que
gerou a elevação do estoque no
País. Sob recessão e com desemprego em
alta, a pressão sobre a carne bovina, com
a transferência parcial do consumo para os
cortes de frango e suínos, foi aindamaior. O
ano foi atípico em termos de preços da ar-
roba do boi gordo, registrandoqueda no se-
gundo semestre, fenômeno que só foi visto
em 2005, ano da descoberta de um foco de
febre aftosa noMato Grosso do Sul, e na cri-
No
espelho
Crise influenciou o
mercado interno com
menor demandade
carne bovina em2016,
mas a baixa oferta travou
umadesvalorização
aindamaior
semundial de alimentos de 2008.
De acordo com a Associação Brasilei-
ra das Indústrias Exportadoras de Carne
(Abiec), as empresas tiveram dificuldades
para escoar a produção, refletindo o am-
biente econômico. Isso pressionou os pre-
ços do boi gordo. Em contrapartida, a me-
nor oferta de animais terminados limitou
uma desvalorização aindamaior da arroba
na reta final do ano. A entressafra coincidiu
com o confinamento em queda e estabili-
zou o valor da arroba.
Conforme balanço da Abiec, os valores
nominais do boi gordo, deflacionados para
valores reais, mostramo impacto que o acú-
mulo da inflação provoca ao longo dos anos
sobre os preços do animal. Baseado no Índi-
ce Geral de Preços-Disponibilidade Interna
(IGP-DI), da Fundação Getulio Vargas ( FGV),
nacomparaçãoentreosanosde2015e2016,
o preço médio real do boi gordo caiu 4,5%.
O preço do boi gordo teve o maior valor real
da série histórica em 2015, quando atingiu
R$ 167,67 pela arroba. A inflação pode criar
a ilusão de que os preços de anos anterio-
reserammenoresdoqueaquelespraticados
em2016. No entanto, retirando-se a inflação,
percebe-sequeemanosanterioresovalorfoi
atémais altodoqueao longode2016.
No final do ano, os preços recuperaram-
-se levemente, pela retração de oferta em
decorrência da seca no Brasil Central, o que
limitou a recuperação das pastagens e a en-
gorda dos animais nas principais regiões
produtoras. Com safra menor e estoques
em queda, houve salto no preço do milho
no mercado interno, levando o pecuarista
a reavaliar a estratégia de nutrição. Compa-
rado a 2015, o milho registrou aumento de
67%. A alta, o custo do boi magro e dos be-
zerros e o baixo valor da arroba do boi gor-
do reduziram o confinamento em 18%, de
acordo com relatório da Associação Nacio-
nal de Confinadores (Assocon).
Estecenáriorefletiu-senopreçodobezer-
ro,que,apósvalorizarem2014e2015,come-
çouaperder preçonaprimavera. Oaumento
da oferta de animais de reposição, filhos das
matrizesretidasem2014,ajudouagerarare-
traçãoe indicar a viradado ciclodapecuária,
impulsionada pela retenção de fêmeas em
2015. O que ajudou a sustentar as cotações
domésticas e a ajustar o mercado foram as
exportações, que cresceramemvalor.
Sílvio Ávila
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