Equilíbrio recuperado

Utilização de diferentes espécies de plantas de cobertura combinadas tem como objetivo melhorar a saúde e o potencial produtivo dos solos agrícolas

Entre as técnicas de conservação de solos, uma delas é baseada na utilização de plantas de cobertura. Além de proteger a camada superficial, elas podem contribuir para recuperar a capacidade produtiva das áreas agrícolas. Ainda que traga bons resultados, o que tradicionalmente vem sendo aplicado é a cobertura com apenas uma espécie. No entanto, uma prática que passou a ser aplicada nos últimos tempos em Santa Cruz do Sul deve proporcionar um retorno ainda mais benéfico para a saúde do solo.

Trata-se do consórcio de diferentes espécies de plantas para, além da proteção, contribuir para a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, promovendo maior biodiversidade nos sistemas produtivos. Inspirada no Projeto Solo Vivo, uma iniciativa da WeBBio Academy, a técnica foi adotada nas lavouras da ProfiGen do Brasil a partir dos ensinamentos do engenheiro agrônomo Ademir Calegari, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar). Chamado de Cover Crops, o projeto iniciado em 2019 consiste na utilização de um mix composto por gramíneas e leguminosas (foto), mas outras famílias de plantas também estão sendo avaliadas.

No ciclo de verão, entre as espécies cultivadas pela ProfiGen estão crotalárias, brachiarias e o milheto. Além de apresentar um nível de desenvolvimento que surpreendeu a equipe técnica da empresa, os resultados também já puderam ser identificados no solo, onde posteriormente é plantado o tabaco destinado à produção de sementes.

“Passamos a utilizar, ao invés de uma monocultura de cobertura, como o milheto ou a aveia, por exemplo, outras plantas. Identificamos que com isso era possível ajudar na recuperação das condições do solo a partir do controle de micro-organismos como fungos, bactérias e nematoides, a fim de possibilitar o equilíbrio natural”, explica o engenheiro agrônomo Nirlei Storch, da ProfiGen. Além dele, estão envolvidos nesse projeto os engenheiros agrônomos Alexandre Bilhalva e Douglas Krauss.

O manejo adequado do solo a partir do mix de plantas de cobertura também contribui para a redução de pragas e doenças nas plantas, acrescenta o engenheiro agrônomo Flavio Hoff, executivo de serviços agronômicos. Para o inverno, inclusive, a utilização do mix, nesse caso com aveia-preta, centeio e tremoço-branco, deve se repetir nas lavouras da empresa, onde é adotado um sistema de rotação de áreas de cultivo.

Plantas utilizadas

Primavera/verão

  • Milheto
  • Crotalaria spectabilis
  • Crotalaria ochroleuca
  • Crotalaria juncea
  • Trigo-mourisco
  • Girassol
  • Capim-pé-de-galinha-gigante
  • Brachiaria ruziziensis
  • Guandu-anão

 

Inverno

  • Nabo forrageiro
  • Ervilhaca comum
  • Ervilhaca-peluda
  • Centeio
  • Tremoço-branco
  • Aveia-preta

Benefícios para a agricultura

À medida que as plantas de cobertura são utilizadas, bioanálises de solo realizadas em laboratório ajudam a aferir os resultados efetivos da técnica. Com esse monitoramento será possível, segundo Nirlei Storch, acompanhar a evolução da qualidade das áreas através de dois bioindicadores. Com o tempo, a expectativa é de que, com o aumento da matéria orgânica, através da diversidade de plantas se crie um solo biologicamente mais ativo, com melhoria na física, química e biologia das lavouras. Da mesma forma, será possível reduzir gradativamente o uso de defensivos, herbicidas e fertilizantes.

O objetivo, segundo Hoff, é disponibilizar a técnica aos produtores rurais. Além de conservar o solo, eles poderão obter maior qualidade e produtividade em suas safras, potencializando as tecnologias desenvolvidas para as lavouras. Aspectos relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade também são contemplados com a proposta.

Saúde vai além da capacidade produtiva

O conceito de saúde ou de qualidade do solo está relacionado à sua capacidade de funcionar para fornecer importantes serviços ambientais, como: manter a capacidade de produção biológica (de grãos, carne, madeira, agroenergia, fibras, entre outros), promover a saúde das pessoas, plantas e animais (solos e ambientes saudáveis) e também preservar a qualidade ambiental, por exemplo, a partir do armazenamento e filtragem da água ou sequestro de carbono.

Um aspecto importante desse conceito é que a saúde do solo vai além da sua capacidade de produção de grãos, carne, madeira, agroenergia, fibras. Ou seja, é possível ter um solo com baixa qualidade, mas cujas elevadas produtividades estejam relacionadas a entradas de insumos em doses muito acima das recomendadas.

Na prática, isso indica uma condição que não é sustentável a longo prazo, pois pode resultar em contaminações do ambiente e prejuízos aos agricultores.

Saiba mais

Atualmente, no projeto Cover Crops da ProfiGen, está em fase de validação a utilização de análises de duas enzimas (betaglicosidase e arilsulfatase) para detectar essas alterações a serem utilizadas como bioindicadores de qualidade biológica do solo.

A data

Celebrado hoje, o Dia da Conservação do Solo é uma data destinada à valorização desse importante recurso, tanto para a atividade agrícola quanto para a expansão das cidades. Uma questão social e ambiental, o cuidado com o solo tem sido objeto de importantes pesquisas em empresas e universidades com o propósito de estimular as boas práticas.

O 15 de abril também marca o nascimento de Hugh Hammond Bennett, considerado o pai da conservação dos solos nos Estados Unidos e o criador do Serviço de Conservação de Solos americano. No Brasil, celebra-se a data desde 1989, para fazer com que todos lembrem da importância de manter esse recurso saudável e fundamental para produção de alimentos, manutenção da floresta, produção da água, entre tantos outros serviços ecossistêmicos.