Apesar das chuvas, milho segue em implantação no RS

A cultura do milho está em implantação. Estima-se que foram plantadas 44% das lavouras projetadas para a Safra 2023/2024, que é de 817.521 hectares. De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado nesta quinta-feira (14/09) pela Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do RS, a semeadura tornou-se impraticável em várias regiões, em decorrência da saturação do solo e das temperaturas mais baixas, condições inadequadas tanto para a semeadura quanto para o desenvolvimento inicial da cultura, que está em fase de emergência e desenvolvimento vegetativo. Nas regiões com prolongado excesso de umidade no solo, já se observam estresse nas plantas e dificuldades de realização de tratos culturais necessários, como a aplicação de herbicidas, de fertilizantes nitrogenados e de inseticidas.

 

Na região de Santa Rosa, o progresso na área plantada foi lento devido às precipitações, alcançando 77% da expectativa. Em algumas áreas, houve excesso de chuvas, que ocasionaram erosão de solo e lixiviação de nutrientes. Em alguns casos, houve alagamentos, levando à morte de plantas. As lavouras não afetadas cresceram bem em virtude da umidade e das temperaturas adequadas. Nas áreas recentemente implantadas, ainda há preocupação com a emergência das plântulas em função do selamento superficial, causado pela erosão laminar em áreas com solo revolvido. As chuvas reduziram a população de cigarrinha, mas os produtores continuam monitorando e planejam a aplicação de inseticidas preventivos.

 

De milho silagem, a safra 2023/2024 prevê o cultivo em 364.291 hectares de área e uma produtividade média de 39.088 kg/ha. Estima-se que tenha sido concluída em aproximadamente 20% da área planejada. A semeadura foi praticamente interrompida devido ao excesso de umidade nos solos e às dificuldades operacionais. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, a estimativa de plantio de milho silagem é de 6.115 hectares, representando aumento de 18,96% em relação à área cultivada no ano anterior.

 

No arroz, o Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) projeta área de cultivo de 902.425 hectares. A Emater/RS-Ascar estima produtividade de 8.359 kg/ha. Os trabalhos de preparo de solo e dessecação para o manejo pré-plantio foram interrompidos em decorrência do grande volume de chuvas desde o início de setembro. Algumas áreas encontram-se submersas devido aos elevados volumes de precipitação acumulados, bem como às cheias nos cursos d’água próximos, o que provavelmente exigirá reparos em taipas danificadas pela força da água. Ainda na região de Bagé, embora o período preferencial de plantio se estenda até meados de outubro, os produtores com grandes áreas a serem implantadas estão preocupados em razão do risco de atrasos, causado pelas condições climáticas úmidas e pelas previsões de novos eventos de chuvas intensas nos próximos dias.

 

A cultura do feijão 1ª safra está no estágio inicial da semeadura, mas, em grande parte do Estado, essa etapa foi interrompida em razão de o solo estar excessivamente úmido. A quantidade de área já semeada é limitada, uma vez que o calendário de implantação varia de acordo com a região, sendo mais precoce em áreas que realizam a segunda safra. No entanto, na maior área projetada, localizada nos Campos de Cima da Serra, o plantio ocorre em período mais tardio, uma vez que essa região não cultiva safrinha subsequente. Para a Safra 2023/2024, projeta-se área de cultivo de 29.053 hectares. A estimativa de produtividade é de 1.775 kg/ha.

 

CULTURAS DE INVERNO

Trigo – A cultura encontra-se em fases reprodutivas, abrangendo a de floração (41%) e a de enchimento de grãos (34%). A fase de desenvolvimento vegetativo representa atualmente 19%, e a de maturação compreende 6% das lavouras, localizadas no Oeste do Estado. A área cultivada na Safra 2023 está estimada em 1.505.704 hectares, e a produtividade prevista é de 3.021 kg/ha.

 

O período de tempo úmido contínuo e alta nebulosidade é propício ao desenvolvimento de doenças, especialmente nas espigas e espiguetas. Nas lavouras de trigo que estão no estágio final de enchimento de grãos e início da maturação, os sintomas de doenças nas espigas, como giberela e brusone, têm aumentado, causando atrofia ou morte dos órgãos reprodutivos e interrompendo o crescimento dos grãos. Entre os sintomas incluem o escurecimento das partes afetadas, a descoloração das espigas e a presença de estruturas de frutificação dos fungos. Há risco elevado de perdas na qualidade dos grãos em maturação, o que pode impedir seu aproveitamento na produção de farinha, restando apenas a opção de venda para ração, cujos preços são significativamente mais baixos.

 

Aveia branca – A área de cultivo na Safra 2023 é de 365.081 hectares, e a produtividade está estimada em 2.340 kg/ha. Atualmente, 12% das áreas se encontram na fase de desenvolvimento vegetativo, e 24% na fase de floração. A fase de enchimento de grãos abrange aproximadamente 40% e a fase de maturação, 17%. Já foram colhidas 7% das lavouras. Na regional de Soledade, avaliações recentes em lavouras indicam que, em geral, as expectativas de produtividade estão alinhadas com as projeções. Contudo, no período, as condições foram favoráveis para o desenvolvimento de doenças fúngicas, em função da alta umidade relativa do ar, que promoveu a incidência de manchas foliares, ferrugens e giberela. Portanto, é crucial realizar o monitoramento e implementar medidas de controle adequadas para mitigar a proliferação dos patógenos e manter o potencial produtivo.

 

Canola – A área de cultivo estimada é de 67.219 hectares, e a produtividade está estimada em 1.632 kg/ha. As lavouras estão em diferentes estágios de desenvolvimento. Cerca de 2% da área encontra-se na fase de desenvolvimento vegetativo, e 23% estão na fase de floração. A fase predominante é a de enchimento dos grãos, abrangendo 60% dos cultivos. Em maturação, são 12% da área, e 3% já foi colhido. Caso prossigam as chuvas intensas com ventos, podem ocorrer perdas significativas. As primeiras áreas implantadas já estão entrando na fase inicial de maturação, e a colheita está prevista para o final de setembro.

 

Cevada – A projeção de cultivo é de 35.899 hectares, e a produtividade esperada é de 3.144 kg/ha. Aproximadamente 40% das lavouras estão em desenvolvimento vegetativo; 40%, em floração; e 20%, em formação de grãos. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Erechim, a área total da cultura abrange 12.185 hectares, que se encontram em floração e formação dos grãos. Se continuarem as atuais condições climáticas favoráveis, a produtividade deve chegar a 3.600 kg/ha.

 

FRUTÍCOLAS

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, nos olivais da Campanha, poucos prejuízos devem ocorrer devido às chuvas excessivas, considerando o comportamento mais tardio de emissão das inflorescências nos pomares estabelecidos mais ao Sul do Estado. Apenas nas cultivares precoces, já estão sendo observadas flores abertas. Esse processo ocorrerá ao longo das próximas semanas até meados de outubro, de forma gradativa, conforme o ciclo das cultivares, quando será importante que o tempo permaneça firme para efetiva polinização. Os eventos pontuais de granizo e geadas foram de baixa intensidade, e há potencial limitado de danos aos cultivos. Estão concluídos os trabalhos de manejo de inverno relacionados a podas e à adubação de produção com boro e fósforo. Em função do tempo úmido, que favorece a incidência de doenças fúngicas, aplicações de fungicidas estão sendo intensificadas, à medida que o solo permite a entrada dos pulverizadores nos pomares. Na Fronteira Oeste, em Alegrete, os produtores de uva e de pêssego concluíram os trabalhos de poda seca.

 

Na região de Lajeado, houve variações significativas nas temperaturas e nas precipitações, o que pode propiciar a ocorrência de doenças. De 04 a 10/09, as chuvas foram muito acima da normalidade, provocando inundações em diversos municípios da região, mas sem atingir, de forma direta, a citricultura. O volume hídrico propiciou bom armazenamento de água no solo para a continuidade do desenvolvimento das flores e para manter a produção em maturação e em colheita. O excesso de água no solo se infiltra ou escoa, até atingir a capacidade de campo, onde todos os fluxos permanecem funcionais. Destaca-se, no entanto, que as estiagens dos últimos três anos, os temporais e as inundações provocadas pelos ciclones no inverno estão causando a redução da produção deste ano. A produtividade varia de 25% a 35%, especialmente nas variedades mais precoces. Essa redução ocorre devido ao menor número de frutos por árvore, ao tamanho médio final dos frutos colhidos e à sua queda em razão dos ciclones e temporais de granizo. É importante destacar que essa situação não acontece em todos os municípios: em alguns, a produção está próxima do normal; já em outros, houve diminuição ocasionadas por essas intempéries. A produção das variedades tardias, que estão em colheita, será verificada ao final da operação. Os pomares apresentam intensa floração, que dará origem à Safra 2024, mas podem sofrer danos, caso persistam os temporais, que também poderão afetar a safra em colheita. Os citricultores estão aproveitando para colher o máximo possível com o objetivo de obter bons preços e de diminuir os riscos. Apesar dessas condições meteorológicas, a qualidade segue muito boa, visto que os frutos já atingiram seu estado de maturação, restando somente a sua colheita, que está sendo efetuada de forma acelerada.

 

PASTAGENS E CRIAÇÕES

As condições climáticas, marcadas pelo excesso de chuva e pelos períodos de pouca luz solar, têm afetado negativamente o crescimento e a maturação das pastagens. Esse cenário resultou em áreas encharcadas, que, quando pisoteadas pelos animais, levam a perdas significativas na qualidade e na quantidade de biomassa vegetal disponível para o pastoreio e em menor disponibilidade de alimento para o rebanho.

 

O setor de carnes está acumulando prejuízos e enfrentando incertezas; há perspectiva de leve recuperação prevista somente para outubro. A comercialização de bovinos de corte continua a apresentar ritmo de atividade reduzido.

 

No caso dos bovinos de leite, o excesso de precipitação também está comprometendo o manejo dos rebanhos e contribuindo para o aumento significativo nos casos de mastite. Também houve dificuldades no recolhimento de leite, em função dos danos nas estradas provocados pelas fortes chuvas.

 

APICULTURA – Nas regiões administrativas de Emater/RS-Ascar de Bagé e Ijuí, o acesso a alguns apiários está comprometido devido às fortes chuvas. Na de Caxias do Sul, as precipitações afetaram a atividade das abelhas, tornando os enxames menos ativos. Muitos precisaram receber alimentação suplementar para se manterem fortes. Os apicultores monitoraram os estoques de mel para evitar o abandono das colmeias e a morte das abelhas devido à falta de alimento. Na de Erechim, o clima chuvoso dificultou a coleta de mel e de pólen pelas abelhas, especialmente durante o período de entressafra, quando as floradas foram mais escassas. Na de Passo Fundo, as chuvas intensas mantiveram as abelhas dentro das colmeias, e, em razão da alta umidade do ar não foram realizadas práticas de manejo para preservar os enxames.

 

Na de Pelotas, as chuvas excessivas impactaram negativamente a produção de mel e prejudicaram as floradas devido ao excesso de umidade. Na de Porto Alegre, a alimentação artificial foi encerrada, assim como a colheita de mel. Na de Santa Rosa, as chuvas frequentes limitaram o forrageamento das colmeias, mas há expectativas de que novas floradas ocorram após as chuvas terem afetado a disponibilidade de pólen e néctar. Os apicultores estão retomando as atividades de preparação das melgueiras para a produção primaveril e estão colocando caixas iscas para capturar enxames.

 

 

Foto: José Schafer, Santa Rosa