A doce descoberta do suco de uva

50% das uvas processadas no Rio Grande do Sul destinam-se ao suco

Em 2004, 78% das uvas processadas no Rio Grande do Sul viravam vinho, e apenas 22% eram transformadas em suco. Em 2018, a proporção já está em meio a meio. No caso das uvas americanas e híbridas, a proporção até já se inverteu. Para o suco vai 54% da colheita. Para o vinho, 46%.

Esta evolução impressionante é a melhor maneira de ilustrar como o suco de uva caiu nas graças do consumidor e das vinícolas, que viram uma oportunidade de negócio para as variedades de uva consideradas menos nobres, não destinadas a vinhos finos. “As variedades americanas e híbridas representam cerca de 90% das uvas processadas no Rio Grande do Sul, sendo predominantes a Isabel, com 33%, e a Bordô, com 24% do volume”, explica José Fernando da Silva Protas, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, sediada em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. “São opções que dão flexibilidade às empresas, pois elas podem transformar o produto tanto em suco quanto em vinho, de acordo com o momento do mercado”.

De acordo com o diretor de promoção do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Diego Bertolini, o suco de uva nacional mal começou a mostrar seu potencial de mercado. “Não existe outro lugar no mundo com escala de produção como a nossa. Temos volume, e isso faz toda a diferença no momento de abrir mercado no exterior”, salienta. “Em resumo, é um produto que o planeta quer e que só o Brasil tem condições de oferecer”, diz, destacando que só o Rio Grande do Sul tem cerca de 80 mil hectares de videiras, praticamente a mesma área da Nova Zelândia.

Para a coordenadora de Agronegócio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Camila Meyer, o suco de uva tem plenas condições de tornar-se uma espécie de novo açaí, que ganhou o mundo como um produto que é símbolo do Brasil. “Vemos muitas possibilidades. Primeiramente pela qualidade, que é reconhecida por todos que experimentam o produto. Não há nada similar no planeta, justamente pelo tipo de uva, o que agrega valor de mercado e auxilia num posicionamento de mercado”, explica.

De acordo com dados da Embrapa, a quantidade de suco de uva comercializado no Brasil em 2017 foi de 241,32 milhões de litros (convertidos em suco simples), 5,15% superior à verificada em 2016. O suco de uva integral apresentou aumento de 25,87% na comercialização. A média de consumo por habitante no Brasil é baixa e fica em 1,23 litro, o que representa “uma grande oportunidade de negócio num país com a nossa dimensão”, argumenta Bertolini.