Negócio da China

A ordem no setor é aproveitar o momento e os prêmios compensadores

Uma crise comercial entre os Estados Unidos e a China, que gerou sobretaxação em milhares de produtos de lado a lado, acabou jogando uma oportunidade de ouro nos braços da cadeia produtiva brasileira da soja. Evitando comprar soja norte-americana, como eram habituados, os chineses concentraram as compras no Brasil e na Argentina em 2018, e com isso geraram oportunidade que os sojicultores consideram literalmente “um negócio da China”: preços remuneradores e forte demanda.

Rumando para exportações recordes no complexo soja, o Brasil contou também com a quebra da safra na Argentina, por causa da seca, o que concentrou ainda mais as atenções asiáticas na soja nacional. De janeiro a setembro, por exemplo, o Brasil exportou 83,46 milhões de toneladas de soja, farelo e óleo de soja, diante das 73,313 milhões de toneladas em igual período do ano anterior. A receita obtida nos nove primeiros meses de 2018 totaliza US$ 33,6 bilhões, frente a US$ 27,72 bilhões no mesmo intervalo de 2017. Os números já superam o desempenho total de 2017.

Mesmo com projeção de que os volumes de embarques sigam caindo em direção à próxima safra, até pela menor disponibilidade e pelos baixos estoques do Brasil, os analistas consideram que o país manterá a movimentação constante dos portos em direção à China.

Leonardo Amazonas, analista do mercado de soja da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), considera que o baixo estoque de passagem previsto para o Brasil deve manter os preços em patamares altos em 2019. “Mantida a disputa comercial entre os dois gigantes, teremos mais um ano em que, se a cotação da soja em Chicago não for tão favorável, os prêmios compensarão”, avisa.

No entanto, Amazonas faz um alerta. Um aumento substancial na produção brasileira e um acordo entre China e Estados Unidos podem ser o pior cenário possível. “Este é o grande temor da cadeia produtiva: ter um volume importante de oferta, até com a recuperação da safra argentina, os Estados Unidos com grandes estoques, o Brasil com produção recorde e o mercado travar aqui no continente”, menciona. “Isso derrubaria os preços, o que é um panorama que não queremos. Por isso, a orientação da cadeia produtiva tem sido evoluir com prudência”.

O analista acredita que o Brasil vai ampliar em torno de 3% sua área plantada, mas que a produção não deve evoluir tanto acima de 120 milhões de toneladas por causa do clima, que pode não ser tão favorável. O aumento do frete, que deve representar acréscimo de 5% a 10% no custo de produção, também segura uma expansão maior de área.