Mãos dadas pela nova agricultura

As mudanças climáticas estão exigindo a adoção de medidas que garantam a sustentabilidade da produção de alimentos e a preservação dos recursos naturais. O assunto foi tema do evento “O clima está mudando. A alimentação e a agricultura também devem mudar”, promovido nessa terça-feira pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário para celebrar o Dia Mundial da Alimentação, em Brasília.

Para contribuir com esse desafio, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) vem promovendo iniciativas que preparam o produtor rural para trabalhar com novas tecnologias e asseguram a segurança alimentar. A entidade já é parceira da FAO e da Embrapa em programas como o Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas na Amazônia (Pradam) e o Projeto ABC Cerrado.

“Estamos aqui para ouvir o que o mundo precisa e o que os nossos parceiros estão pensando. Queremos aproximar o Sistema CNA/Senar dessas instituições para fortalecer a nossa metodologia de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) e nossas ações de educação. O foco é garantir a permanência do produtor rural na atividade e a sua rentabilidade”, declara o secretário executivo do Senar, Daniel Carrara, que representou o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Conselho Deliberativo do Senar, João Martins, na cerimônia.

O tema também foi abordado pelo presidente da Embrapa, Maurício Lopes, na palestra “Agricultura, Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas” durante a solenidade. Outro destaque foi a apresentação sobre o Dia Mundial da Alimentação, feita pelo representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic. Ele ressaltou que as mudanças climáticas podem afetar as quatro dimensões da segurança alimentar (estabilidade, disponibilidade, acesso e utilização) e ameaçar as conquistas que vem sendo alcançadas na luta contra a fome e a pobreza. Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é acabar com a fome no mundo até 2030.

A conversão de florestas em terras para outros usos representa a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa na América Latina e Caribe, segundo o mais novo relatório da FAO. A fermentação entérica – o gás produzido nos sistemas digestivos dos ruminantes –, o estrume deixado nas pastagens e os fertilizantes sintéticos também são fatores preocupantes. O estudo ressalta que nos próximos anos haverá maior salinização e desertificação em áreas áridas do Brasil e do Chile. Os dados apontam também que a temperatura no País terá um aumento 1,0 a 3,5 graus célsius como uma variação do rendimento agrícola de 1,3 a 38,5%.

“Precisamos promover uma agricultura mais adaptativa e que os governos implementem transformações rápidas nos sistemas alimentares e agrícolas para lidar com as mudanças climáticas. Estamos propondo ações como o uso eficiente dos fertilizantes, o manejo dos solos, a gestão da água e a conversão de resíduos de animais em biogás. Outro ponto importante é a promoção de dietas que não estejam baseadas em produtos de origem animal, pois sua produção exerce uma forte pressão sobre os recursos naturais, a redução das perdas e desperdícios de alimentos e o apoio aos pequenos agricultores”, aponta Bojanic.

Também participaram do evento o ministro do Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, e o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará Filho, entre outras autoridades.

Desperdício de alimentos
Conforme estimativa da FAO, mais de 745 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Por outro lado, aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é desperdiçado mundialmente a cada ano, o que presenta de 25 a 30% da área agricultável no mundo. Para ampliar a consciência dos consumidores brasileiros sobre esse contraste e gerar um impacto positivo nos hábitos de consumo alimentar, a FAO, a Embrapa e o WWF-Brasil lançaram a campanha #SemDesperdício durante o evento.

A iniciativa pretende apresentar aos consumidores as consequências negativas do desperdício de alimentos para o meio ambiente, o orçamento familiar e a segurança alimentar. Apesar da fome não ser mais um problema estruturante no País (em 2014 o Brasil saiu do mapa da Fome da FAO por ter menos de 5% da população em situação de insegurança alimentar ), uma parcela da população ainda enfrenta esse problema. Dessa forma, reduzir perdas e o desperdício de alimentos é a forma mais sustentável de ampliar a oferta de alimentos e diminuir perdas drásticas de recursos naturais.

Pesquisa recente da FAO, focada nos países da América Latina e Caribe, estima que 28% das perdas ocorrem na etapa de produção e outros 28% são perdidos no consumo. “Evitando o desperdício na etapa de consumo, economiza-se dinheiro, recursos naturais, normalmente escassos, e ampliam-se as possibilidades de enfrentamento da insegurança alimentar”, alerta o presidente da Embrapa, Maurício Lopes.

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *