Ganho e armadilha

Preços da soja brasileira ficaram próximos de seus melhores momentos

Os resultados financeiros foram bons, mas estão sujeitos a mudanças. Com dados do cenário gaúcho, o professor Argemiro Luís Brum, da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema) da Universidade do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí), de Ijuí (RS), observa que a safra 2017/18 de soja, em boa parte, foi comercializada em ambiente positivo, de valores altos e custos a câmbio menor. Para a nova, projetava em 17 de setembro de 2018: “Salvo surpresas, a armadilha está posta: tende a ser com custos mais elevados e preços médios finais menores do que a anterior para os que não conseguirem média adequada de venda futura, o que, por ora, é a grande maioria”.

Com valor da saca rompendo o teto dos R$ 70,00 a partir da terceira semana de março, aproximou-se dos melhores momentos da era do real em termos nominais na primeira quinzena de setembro, ultrapassando a R$ 80,00, citou o analista. Lembrou que isso se deu a partir de câmbio médio de R$ 3,30 por dólar em março e abril, valores em Chicago/EUA entre US$ 10,00 e 10,50/bushel e prêmio médio no porto de Rio Grande (RS), em abril, entre US$ 1,25 e 1,50/bushel, já por conta do início do conflito comercial entre EUA e China. “Enquanto isso, custos de produção foram realizados, em média, com câmbio ao redor de R$ 3,16, o que ofereceu ganhos importantes à maioria dos produtores gaúchos, salvo os que sofreram com a seca”, disse.

Todavia, chamou atenção para a situação de mercado que se apresentava então. “Os preços nacionais sobem mesmo com Chicago despencando e registrando valores de US$ 8,20/bushel (os mais baixos em pouco mais de 10 anos naquela bolsa)”. As razões estariam ligadas ao referido litígio comercial e às constantes safras recordes dos EUA. Enfim, considerou que “os preços internos sobem apenas devido ao câmbio e aos prêmios nos portos brasileiros, estes em elevação justamente em virtude do referido litígio”, mencionando que registravam então aumentos entre 99% e 114% em relação há um ano, enquanto o câmbio atingiu o maior valor nominal (R$ 4,20/dólar) desde o lançamento do real em 1994.

Diante disso, Brum conjeturou que o quadro poderia mudar porque a nova safra estava sendo feita a custo de produção cambial entre R$ 3,70 e 4,00, enquanto o preço do produto, para quem não realizava vendas antecipadas, buscando a melhor média (o índice era menor neste ano), poderia ser mais baixo do que o praticado na última safra. O que o faz alertar para isso? Primeiro porque Chicago não dava indicativos de que suas cotações iriam se alterar muito; segundo, passadas as eleições no Brasil, a chegada do novo governo tenderia a reduzir a especulação cambial; e, enfim, mesmo mantida a questão EUA x China, os prêmios nos portos deveriam diminuir pela pressão da entrada da safra. Assim, via tendência de preço da soja (balcão gaúcho, em abril de 2019), entre R$ 65,00 e R$ 70,00 pela saca.