Jornal da Emater - page 8

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esde os primórdios da imigração
alemã no Rio Grande do Sul, imi-
grantes germânicos sempre tive-
ramo hábito de cultivar uma “far-
mácia” no quintal de casa, commuitas plantas
medicinais. No início, o faziam por necessida-
de, já que viviam isolados. O tempo se encarre-
gou de transformar essa obrigação emhábito.
Esta tradição de quase dois séculos temem
NovaPetrópolis, na SerraGaúcha, o seumaior
expoente. Prova disso é que no município de
cerca de 20 mil habitantes há mais de 10 anos
existe o Programa de Fitoterapia na Atenção
Básica à Saúde, parceria entre Secretaria Mu-
nicipal de Saúde, Emater/RS-Ascar e Centro
de Formação de Agricultores (Cetanp).
Em sete unidades básicas de saúde e no
Centro de Atenção Psicossocial do municí-
pio, médicos prescrevem 10 tipos de plantas
medicinais para o tratamento de problemas
respiratórios e digestivos, principalmente. Em
Nova Petrópolis, as doenças cardiorrespirató-
rias são as que mais acometem a população,
da qual 15% são idosos. A cada ano, o uso do
método vem crescendo. Em 2015, foram dis-
tribuídas 5.413 unidades de chás. O guaco é a
planta mais utilizada, seguido pela camomila.
Desde o início do programa, foram distribuí-
das mais de 36 mil porções de plantas.
De acordo com a farmacêutica da Prefei-
tura de Nova Petrópolis, Caroline Drechsler,
as plantas têm boa aceitação por parte po-
pulação. Segundo ela, cada vez mais estudos
comprovam a eficácia terapêutica das plantas
e apresentamnovidades sobre o uso. Na cida-
de existe umtrabalhopermanente de educar a
população para o aproveitamento correto das
plantas medicinais, com ações, por exemplo,
junto a grupos de hiperdia (hipertensos e dia-
béticos), orientando sobre modo de preparo
dos chás, quantidade a ser utilizada, arma-
zenamento e outros cuidados importantes.
Embora naturais, as plantas também podem
ter efeitos colaterais. “As pessoas acham que
se ferve tudo. Porém, para algumas plantas
(amargas) temde usar água fria”, exemplifica.
Todo o processo, que envolve cultivo eco-
lógico, colheita, classificação, secagem e em-
balagem das plantas, é realizado no Cetanp,
que é referência na capacitação nesta área. Re-
centemente, o órgão passou a contar com um
Centro de Beneficiamento de Plantas Medi-
cinais, construído com recursos da Prefeitura
de Nova Petrópolis. “Esse programa funciona
e dá certo devido à parceria, que faz com que
tenhamos mais força de inserção. São mais
pessoas pensando e fazendo com que tudo
aconteça”, salienta Caroline.
O médico Gregor Hermann é um dos
que prescreve plantas medicinais diariamen-
te. Em seu entender, o programa fortalece o
vínculo do médico com o paciente, tendo
em vista que o uso das plantas medicinais é
cultural, tendo passado de uma geração para
outra. “Nossa experiência aqui é boa”, afirma.
Para a secretária da Saúde de Nova Petró-
polis, Crislei Gerevini, o programa valoriza o
saber popular e abre a possibilidades para que
os agricultores familiares possam ter nesse cul-
tivo uma fonte de renda. Contudo, ela também
aponta desafios, como fomentar
pesquisas na área e fazer com
que os profissionais da
saúde tenham envolvi-
mento com o assunto
desde a formação.
A natureza cura
Em Nova Petrópolis,
Programa de
Fitoterapia na
Atenção Básica à
Saúde funciona
há mais de uma
década, e usa
plantas medicinais
prescritas por
médicos
Ervas e chás
são receitados
por médicos
e distribuídos
gratuitamente
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