Estímulo positivo

Brasil espera superar as 49,3 milhões de sacas de café produzidas em 2019, com 20% de queda, em parte provocada pela bienalidade negativa. Estimativa inicial é colher de 57,2 a 62,02 milhões de sacas em 2020.

A cafeicultura brasileira deve repor nesta safra o café produzido a menos no ano anterior, de bienalidade negativa. A previsão é colher de 57,2 a 62,02 milhões de sacas beneficiadas de café arábica e conilon em 2020, representando altas de 15,9% a 25,8%, de acordo com o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os dados foram divulgados em janeiro de 2020. A estimativa de incremento leva em conta a influência da bienalidade positiva na espécie arábica e a maior área destinada à produção.

Para o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, o volume estimado pela Conab está de acordo com a realidade do campo. Porém, a tendência é de o resultado ficar mais próximo de 57 milhões de sacas. “Muitas áreas novas, que possuíam projeções para colher bons volumes, tiveram o potencial afetado pelas adversidades climáticas e devem diminuir a produção entre 30% e 40%”, pondera. Mesmo que a produção se aproxime do teto de 62 milhões de sacas, segundo ele, o Brasil não exercerá pressão sobre os preços internacionais.

Em 2019, a colheita totalizou 49,3 milhões de sacas beneficiadas de 60 quilos de café, volume 20% menor do que o do ano anterior. A redução foi consequência da bienalidade negativa e da menor área produtiva, observam os técnicos da Conab. Além disso, o clima também afetou o desenvolvimento do cafeeiro em algumas regiões produtoras. O rendimento médio foi de 27,2 sacas por hectare, 17,8% menor que a média de 2018. Mesmo assim, o volume dessa safra superou os obtidos em anos anteriores de bienalidade negativa.

A área destinada ao cafezal totalizou 2,13 milhões de hectares em 2019, com 1,2% de retração em relação à do ano anterior. Cerca de 85% do cafezal encontrava-se em produção e 15% em formação. A safra de arábica foi de 34,3 milhões de sacas de 60 quilos em 2019, com 27,8% de queda. A produção de conilon totalizou 15 milhões de sacas de 60 quilos, 5,9% superior ao volume de 2018. O cafezal dividiu-se em 1,73 milhão de hectares para o arábica, 0,9% menor, e em 398,8 mil hectares para o conilon, 2,5% de retração. O arábica ocupou 81% do espaço total.

Os cafezais de arábica estão mais concentrados em Minas Gerais. A área diminuiu nas principais regiões produtoras e a colheita reduziu para 24,55 milhões de sacas. No Espírito Santo, maior produtor do conilon, ocorreu queda que chegou a 13,5 milhões de sacas e produtividade média de 34,27 sacas/hectares. O efeito da bienalidade negativa afetou inclusive a produção de outros. Em São Paulo, a produção ficou em 4,34 milhões de sacas; na Bahia, 3 milhões; em Rondônia, com destaque para o conilon, 2,2 milhões; no Paraná, 953 mil; Goiás, 249 mil; Rio de Janeiro, 245 mil; e Mato Grosso, 121,4 mil.

ENVIO RECORDE

A exportação brasileira de café superou todos os volumes dos anos anteriores em 2019, apesar de a safra ter sido 20% menor. O embarque, incluindo café verde, solúvel e torrado & moído, chegou a 40,609 milhões de sacas de 60 quilos, 13,9% acima das 35,638 milhões de sacas de 2018, de acordo com o relatório do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), divulgado em janeiro de 2020. O presidente do CNC, Silas Brasileiro, avalia que a exportação recorde no mínimo deve se repetir em 2020. O volume, somado ao consumo superior a 20 milhões de sacas, indica que toda a safra de 2020 esteja comprometida. “Isso fará com que o País fique com o menor nível de estoque da história”, avalia.

Em relação à exportação de 2019, a receita cambial totalizou US$ 5,1 bilhões, valor 1,1% menor que o do ano anterior. O preço médio da saca ficou em US$ 125,49, média 13,2% menor que a de US$ 144,56 em 2018, que já havia sido menor que as médias dos anos anteriores desde 2015. Mas com a valorização do dólar, o total ficou em R$ 20,107 bilhões. O valor bruto gerado pelas exportações e pelo consumo interno totalizou R$ 28,2 bilhões em 2019, superior aos resultados de R$ 27,0 bilhões e R$ 26,8 bilhões dos dois anos anteriores, mas menores que os de 2015 e 2016.

Para o presidente do Cacafé, Nelson Carvalhaes, o resultado positivo já era esperado e reflete a excelência e eficiência do agronegócio café do Brasil em atender a demanda global pelo produto. Entre os países que mais importam o café brasileiro, quase todos aumentaram o volume adquirido. “O Brasil mantém a liderança mundial e é protagonista na oferta de cafés sustentáveis para o mundo, oferecendo um produto com total segurança e qualidade, graças a sua alta competência e ao foco na sustentabilidade”, ressalta Carvalhaes.

SERVIDOS

O produto nacional foi importado por 128 países em 2019. “Estamos preparados para atender a demanda global, que deve aumentar nos próximos anos”, afirma Nelson Carvalhaes. A Organização Internacional do Café (OIC), sediada em Londres, projeta que o consumo mundial atual, estimado em 167,90 milhões de sacas, poderá chegar a 197,78 milhões de sacas em 2030, com crescimento médio de 1,5% ao ano.

Os Estados Unidos, maiores consumidores do café brasileiro, importaram 7,864 milhões de sacas em 2019, com alta de 24,75% e participação de 19,4%. O segundo maior volume, de 6,77 milhões de sacas, com acréscimo de 19,4% e contribuição de 16,7%, foi registrado pela Alemanha. Foram seguidos pela Itália, com 3,568 milhões de sacas, com incremento de 12,81% e 8,8% do todo. Dos 10 maiores clientes, apenas o Reino Unido apresentou queda, de 25,5%, na importação de 941 mil sacas de café em 2019. O México adquiriu 951 mil sacas em 2019, representando 200,85% de aumento.