Está no gene

Desconhecimento de novas variedades e conservadorismo ainda travam avanços

Embora as pesquisas de melhoramento genético do cafeeiro tenham quase 90 anos de história no Brasil, a adoção de novas cultivares por parte dos agricultores ainda é considerada baixa, muito em virtude do desconhecimento de quem produz sobre o comportamento das variedades em sua região. Outra causa, na visão do engenheiro agrônomo Carlos Henrique Silveira de Carvalho, é o conservadorismo: são escolhidas as mesmas cultivares tradicionalmente plantadas e com bom comportamento, mesmo que haja materiais com melhores características.

Para minimizar essas deficiências, uma das grandes apostas da ciência é na divulgação dos resultados obtidos pela pesquisa, com contato cada vez mais direto com os produtores. E, segundo o doutor em genética e melhoramento de plantas, não são poucas as opções. Somente o café arábica, mais plantado no País, conta atualmente com 130 cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC), proporcionando ampla variedade de escolha, o que pode ser determinante na lucratividade da lavoura.

Carvalho reforça que a definição da cultivar é muito importante, uma vez que o custo de implantação do cafezal é alto. Além disso, por ser uma cultura perene, os prejuízos somente serão notados alguns anos depois do plantio, com baixa produtividade e depauperamento precoce das plantas. “Outros problemas decorrentes da escolha errada, como época de maturação não adequada para a região, dificuldade para a colheita mecânica, alta susceptibilidade a doenças, baixa resposta à poda e pouca adaptação à região de cultivo, também serão observados mais tarde.”

Conforme o pesquisador de melhoramento e propagação vegetativa do cafeeiro, deve-se preferir cultivares que já tenham sido devidamente testadas na região onde serão plantadas e que, de preferência, sejam resistentes à ferrugem-do-cafeeiro, um dos principais problemas fitossanitários da cadeia produtiva. O trabalho de melhoramento para driblar essa doença é constante, mas ainda esbarra em muitos obstáculos. “A maior dificuldade é caracterizar o nível de resistência das plantas selecionadas durante o processo de melhoramento para se ter certeza do tipo de resistência que está presente no material em desenvolvimento.”

HISTÓRIA CONSOLIDADA

O melhoramento genético do cafeeiro no Brasil começou na década de 30, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em São Paulo, onde foram desenvolvidas as cultivares Novo Mundo e Catuaí, as mais plantadas no País. “Na década de 70, após a entrada da ferrugem-do-cafeeiro nas lavouras brasileiras, várias instituições de pesquisa e universidades intensificaram os trabalhos com melhoramento genético do cafeeiro visando, principalmente, o desenvolvimento de cultivares com resistência à ferrugem”, explica o pesquisador Carlos Henrique Siqueira de Carvalho.

Atualmente, segundo o agrônomo, a pesquisa busca desenvolver cultivares com alta capacidade produtiva, boa resposta à poda, facilidade de colheita mecânica, e resistência à ferrugem e outras doenças, como Pseudomonas e Phoma. O melhoramento também procura por uniformidade de maturação dos frutos, resistência ao bicho-mineiro, boa qualidade de bebida e adaptação a estresses abióticos, como seca e altas temperaturas. As novas cultivares passam por ensaios de comportamento agronômico e tecnológico em diversas regiões cafeeiras, a fim de que a possam ser efetivamente testadas e avaliadas.