Como será o amanhã

No Brasil, os preços devem seguir mais elevados com o apetite chinês

Ainda que o Brasil venha a elevar sua área plantada entre 1% e 3%, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os preços da soja devem se manter remuneradores na safra 2018/19. Esta é a projeção de alguns dos principais analistas do País, com base num cenário que conjuga a continuidade da disputa comercial entre Estados Unidos e China, com o país asiático concentrando suas compras no Brasil. Com o recuo das cotações na Bolsa de Chicago, diante do impasse comercial, mesmo que atual safra seja grande na América do Norte, a estimativa é de que em 2019 a área nos EUA seja menor, abrindo espaço para algodão, milho e trigo.

Mesmo com o suporte de subsídios governamentais, a manutenção de preços baixos para atrair os demais compradores mundiais e substituir, ao menos de forma parcial, a demanda da China, reduz o ímpeto de produção dos sojicultores norte-americanos para a próxima temporada. O momento é ótimo para os compradores. A expectativa também é de recuperação na safra argentina, onde a China passou a buscar, em setembro, farelo de soja, o que não fazia desde janeiro de 2010. Desde junho os chineses não compram soja ou farelo nos EUA.

Neste cenário, os analistas consideram que o dólar deve flutuar entre R$ 3,50 e R$ 3,75, e que os prêmios pagos no porto devem compensar cotações mais fracas na Chicago Board Of Trade (CBOT). A rentabilidade, porém, pode não ser tão boa quanto foi para aqueles que tinham soja disponível no pico de valorização de quase R$ 100,00 no porto de Paranaguá (PR), entre agosto e setembro. Isso porque a tabela de frete e o dólar mais alto na compra de insumos ampliaram o custo de produção.

O analista Eduardo Vanin, da Agrinvest Consultoria, do Paraná, lembra que há o cenário político, que deverá interferir no mercado, em especial por meio do câmbio. Refere que com maior influência cambial, com o dólar caindo de R$ 4,15 para R$ 3,70 próximo das eleições do primeiro turno, houve queda dos preços na soja disponível (safra 2017/18) entre R$ 4,50 e R$ 5,00 e da safra nova entre R$ 3,50 e R$ 4,00. Com a concentração das compras chinesas no Brasil, não devem ocorrer grandes problemas. “As cotações na bolsa e os prêmios se regulam conforme o mercado, mas tendem a se manter remuneradores na maior parte do tempo, exceto se ocorrer alguma catástrofe”, explica Liones Severo, da SimConsult.

Para o analista Flávio França Júnior, chefe do Setor de Grãos da Datagro Consultoria, a dinâmica de preços no Brasil está muito baseada no câmbio. “A queda das cotações em Chicago tem sido compensada pelos prêmios, pois o mercado chinês precisa da soja brasileira”, frisa.