Colheita do arroz inicia com boas expectativas

Apesar das chuvas irregulares ao longo do desenvolvimento, previsão do Irga é que a safra apresente boa produtividade

Começa oficialmente hoje a colheita do arroz no Rio Grande do Sul. O ato que marca a abertura da safra ocorre na Estação Experimental Terras
Baixas, da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Clima Temperado, em Capão do Leão, na Região Sul do Estado. O evento é promovido pela Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e conta com a parceria do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e da Embrapa, além de diversas empresas ligadas ao agronegócio.

Conforme o presidente do Irga, Ivan Saraiva Bonetti, o evento de abertura da colheita é uma oportunidade de integração e debate entre os agricultores e entidades. “É o momento onde os produtores se encontram e trocam experiências técnicas e de mercado. Entendemos que é um momento muito importante e tradicional, onde se encontram gestores públicos e autoridades nacionais, e é interessante que eles vejam a pujança e a importância da cultura”, destaca. Ao longo desta quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão e o governador Eduardo Leite devem visitar o local.

Em relação à produtividade, Bonetti diz que a expectativa é de colher entre 7,9 mil e 8 mil quilos de arroz por hectare. O número fica abaixo da média da safra passada, que registrou recorde histórico com 8,4 mil quilos por hectare, mas ainda é considerado bom pelo Irga. As principais razões apontadas para a queda são a má distribuição das chuvas ao longo do desenvolvimento das lavouras e também o deficit hídrico registrado em algumas regiões, o que impactou no abastecimento dos reservatórios e na quantidade de áreas alagadas, necessárias para o plantio do grão.

Sobre o mercado, o diretor comercial do Irga, João Batista Camargo Gomes, explica que o arroz atingiu um novo patamar com a recente valorização.“Nessa safra nós conseguimos subir esse degrau, e esperamos que neste ano os preços sejam sustentáveis e o arroz seja um produto que remunere melhor o produtor”, salienta. Apesar do bom momento, Gomes pede cautela. “Nós não podemos nos iludir, porque junto com a valorização vem o aumento dos custos de produção. Sempre é assim”, completa.

Ainda que o valor da saca tenha atingido também o recorde histórico no ano passado, chegando a ser vendida por quase R$ 100,00, a área plantada na safra atual cresceu pouco mais de 1% em relação à anterior. Com a boa produtividade, Gomes garante que não deve faltar oferta de arroz no País.

“É importante destacar que o mercado vai ficar abastecido. Sempre tem a história que vai faltar arroz e não é verdade. Está tudo dentro da normalidade”, enfatiza. Gomes diz que as exportações devem variar conforme o câmbio e estão favorecidas pelo atual valor do dólar. “Esperamos que flua bem, mas são coisas que vão acontecendo ao longo do ano e nós vamos acompanhando.”

Rotação com a soja segue em alta no Estado

Uma das mais tradicionais técnicas agrícolas, a rotação da cultura do arroz com a soja vem ganhando cada vez mais força no Rio Grande do Sul. São 944 mil hectares de arroz plantados e 366 mil de soja, e a previsão é aumentar. “Há três anos nós rompemos a barreira dos 300 mil hectares. A tendência é que nos próximos dois anos se ultrapasse os 400 mil hectares e, até 2025, os 500 mil hectares”, explica André Matos, coordenador do Irga na Região Sul. Ele destaca que não se trata da soja tomando o lugar do arroz, mas sim da utilização de terras que ficavam paradas.

“Nós estamos mantendo uma área de arroz de em torno de 1 milhão de hectares. Se olharmos os números de dez anos atrás, são os mesmos, mas naquela época se plantava 10 mil hectares de soja”, afirma Matos. Além disso, outras possibilidades foram abertas, como o cultivo do milho e também a pecuária. “Para se ter uma ideia, só aqui na Região Sul na última safra nós tivemos 20 mil hectares de arroz semeado em terras que no inverno tiveram produção de carne. A soja, por trazer a drenagem, o calcário e mais equipamentos e tecnologia para a propriedade, oferece novas oportunidades ao produtor”, completa.

A queda na produção do arroz apontada por Ivan Bonetti é explicada por Matos. Segundo ele, as chuvas foram suficientes em quantidade, mas a má distribuição prejudicou o desenvolvimento dos grãos. Depois da estiagem nos meses de novembro e dezembro, as grandes precipitações e a baixa incidência de luz solar em janeiro acabaram prejudicando a cultura. Ele destaca, ainda, que não basta somente a chuva, ela precisa ocorrer com regularidade e nos períodos adequados para que as lavouras possam obter boas médias de produtividade.

Para tentar extrair o máximo possível das plantas, a maioria dos produtores gaúchos aposta na variedade 424RI, desenvolvida pelo Irga e que corresponde a cerca de 51% da área plantada no Estado. “É uma cultivar de alta estabilidade e que vai entregar uma produtividade adequada ao ritmo de investimento que nós temos na lavoura hoje, que é muito alto. O custo de produção é extremamente elevado e exige essa estabilidade produtiva. Não podemos correr o risco de semear uma variedade instável.” Matos diz que, apesar das dificuldades da safra, a qualidade do produto final será boa.