A uva traduz o Brasil

A pluralidade de realidades se traduz na pluralidade de mercados e produtos

Junto a cada videira cultivada no Brasil para fins comerciais há uma história de admiração pela planta. Ninguém entra na vitivinicultura por acaso. Talvez isso explique por que estados como Piauí e Rondônia, com clima tropical vizinho ao equatorial, apresentem ao mundo seus 10 hectares de área de uva, ao mesmo passo em que o Rio Grande do Sul e seu clima moldado para o cultivo atinja a marca de 48,83 mil hectares na safra 2017/18.

A pluralidade de realidades se traduz, lógico, na pluralidade de mercados e de produtos derivados da uva brasileira. São diferentes variedades, ciclos e propósitos. A produção nacional de uvas destinadas ao processamento de vinho, suco e derivados foi de 818,78 mil toneladas em 2017, representando 48,74% do total. O restante, 51,26% representa o mercado in natura.

No caso da fruta para processamento, o mercado acendeu o sinal de alerta para os próximos anos. “Tivemos falta de produto em 2016, com safra terrível, por conta de problemas climáticos. Os custos ficaram elevados e o preço subiu ao consumidor, que retraiu o consumo”, alerta o diretor executivo da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), Darci Dani. “Agora, com a colheita grande, voltamos ao patamar de 2015 em relação a preços para tentar reconquistá-lo. Caso não aumente o consumo em 2018 e 2019, pode haver problemas para a colocação de grandes safras nos dois próximos anos.”

No Rio Grande do Sul, que produz cerca de 90% do suco e do vinho brasileiro, além de 85% das espumantes, a quase totalidade da uva vem do modelo de agricultura familiar, em propriedades com tamanho médio de 17,5 hectares, com relevo acidentado, principalmente na Serra Gaúcha, onde são produzidos vinhos finos a partir de cultivares Vitis vinifera L, suco de uvas e vinhos de mesa, elaborados com uvas americanas e híbridas, cuja qualidade tem se elevado nos últimos anos. Já na região da Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai, as áreas cultivadas são maiores, com variedades voltadas à produção de vinhos finos.

De acordo com o vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e coordenador da Comissão Interestadual da Uva no Rio Grande do Sul, Márcio Ferrari, a tendência para os próximos anos é de incremento da produção de variedades voltadas a espumantes, suco de uva e vinho de mesa. “A gente percebe esta tendência de mercado, com o incremento de área em variedades como Riesling Itálico, Isabel, Bordeaux, Chardonnay e outras variedades americanas”, explica.

Em compensação, na região Nordeste do Brasil há grandes empreendimentos de produção, principalmente de uva de mesa. Empresas de médio e grande portes escolheram o Vale do Rio São Francisco, principalmente o eixo de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, onde produzem uvas de mesa, em especial as sem sementes, voltadas para o mercado externo, embora a produção de vinho e de suco de uva na região também já comece a se consolidar.